sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Sobrevivente incólume

Por Rui Zilnet


Eis aqui um exemplo de como a especulação imobiliária e os grandes empreendimentos prevalecem sobre a qualidade de vida da população.


Flamboyant vermelho, na Rua Marcondes Salgado, em Bauru/SP. (Foto: Rui Zilnet)

Na Rua Marcondes Salgado, próximo à esquina da Avenida Nações Unidas, na cidade de Bauru (SP), em frente recém inaugurado Shopping Nações, encontramos uma frondosa árvore da família das 'Fabaceae' - conhecida popularmente por Flamboyant, Acácia rubra, Flor do paraíso, Pau rosa, entre outros nomes - sobrevivente incólume à devastação promovida em função da duplicação da via.

Como mostra a imagem obtida no Google Maps (abaixo), recentemente haviam algumas espécies de árvores frondosas no local, que proporcionavam sombra a quem circulava por ali. Observe a quantidade de veículos protegidos sob as copas daquelas árvores.

Rua Marcondes Salgado, em Bauru, antes da duplicação da via, no segundo semestre de 2012

Não é possível entender o porque da supressão de árvores como estas. Como os responsáveis pela preservação do meio ambiente permitem a consumação de tal ação, que só trás benefícios aos especuladores e grandes empreendedores? Onde está a preocupação dos agentes públicos com a qualidade de vida da população?

Clique sobre as imagens para melhor visualizá-las.


Observação: A imagem superior foi registrada hoje (25 de janeiro). A imagem do Google Maps é do último trimestre de 2012.

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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Moradores da favela mais antiga do Brasil pedem socorro

Por Rui Zilnet


Imagem registrada durante as obras de implantação do teleférico
no Morro da Providência (Foto: Rui Zilnet)
Em carta aberta à população do Rio de Janeiro, moradores do Morro da Providência denunciam as arbitrariedades consumadas para realização das obras de revitalização da região portuária, que visam o embelezamento da cidade para a Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016.

O Morro da Providência, onde está localizada a primeira favela do Rio de Janeiro, considerada pelos historiadores a mais antiga do Brasil, com mais de 110 anos de ocupação, remanescente da cultura afro-descendente, berço das primeiras escolas de samba e dos primeiros grupos de pagode, pede socorro.

Os moradores alegam, que as obras, pensadas pelos grandes empresários do setor imobiliário e do turismo, vão contra os interesses da população, destruindo a história e memória local. Responsabilizam a Prefeitura do Rio por todos os transtornos gerados e, ainda, denunciam que tudo está sendo implementado na vertical, sem participação social da comunidade e sem estudos técnicos que comprovem a necessidade de intervenções como o teleférico e plano inclinado.


Íntegra da carta:

CARTA ABERTA À POPULAÇÃO DO RIO DE JANEIRO

Você sabia que a favela mais antiga do Brasil está sendo destruída?

Desde 2009 a região Portuária do Rio de Janeiro transformou-se num grande canteiro de obras das empreiteiras OAS, Carioca e Odebrecht. Juntas essas empresas invadiram a área com três projetos: 1º é o que eles chamam de “PORTO MARAVILHA”, um projeto de “revitalização” da Zona Portuária que está sendo coordenado pela CDURP – Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região Portuária e financiado pelo dinheiro público (FGTS) e pela venda da terra pública existente na região (70% dos terrenos são públicos); 2° é o Programa de Urbanização MORAR CARIOCA do Morro da Providência que está subordinado a Secretaria Municipal de Habitação e orçado no valor de 119 milhões e o 3° é o Projeto PORTO OLÍMPICO que é parte das grandes intervenções urbanas de embelezamento da cidade para os Jogos Olímpicos de 2016.

Contudo, muito antes desses projetos já existia na área portuária o MORRO DA PROVIDÊNCIA. Segundo historiadores essa é a favela mais antiga do Brasil, com mais de 110 anos de ocupação, patrimônio do povo brasileiro, remanescente da cultuta afro-descendente e berço das primeiras escola de samba como a “Vizinha Faladeira” e dos primeiros grupos de pagode como o “Conjunto Nosso Samba”!

ATUALMENTE TODA NOSSA HISTÓRIA ESTÁ EM PERIGO!

Obras e mais obras pensadas pelo grandes empresários do setor imobiliário e do turismo estão destruindo a nossa memória, nossa história e toda nossa vida! A grande imprensa não divulga que as construções do Teleférico e do Plano inclinado do Morro da Providência estão sendo implementados de cima para baixo, sem nenhum tipo de participação social da comunidade e sem nenhum estudo técnico que comprove a necessidade da construção desses equipamentos de transporte! Mas será que eles realmente sevem para isso? Já sabemos que o teleférico do Complexo do Alemão está subutilizado e que não atende as necessidades dos moradores!!!

A mídia também não informa que o próprio projeto de Urbanização Morar Carioca prevê a remoção de 832 casas da Providência! Estas já foram criminosamente pichadas pela Secretaria Municipal de Habitação e, infelizmente, algumas delas já foram removidas! Sob o argumento de que 317 destas casas estão no caminho das obras e que 515 estão em área de risco (já temos um contra-laudo provando que na Providência a grande maioria das casas NÃO está em área de risco) a Prefeitura está aterrorizando moradores e oferecendo como contrapartida um aluguel social de 400 reais que não dá para pagar nenhuma casa digna para morarmos, ou uma compra assistida que também é uma roubada, ou ainda uma indenização fora da realidade do mercado. (Veja matérias do Jornal O Povo)

Segundo a “Planta Geral de Urbanização do Projeto Morar Carioca” o número de unidades habitacionais planejadas para serem construídas ao longo de dois anos é menor do que o número de remoções! São apenas 639 unidades habitacionais previstas! 58 unidades na Ladeira do Farias n° 91; 20 na Ladeira do Barroso; 4 no Centro Histórico; 131 na rua Nabuco de Freitas, 77 na rua Cardoso Marinho n°68; 349 na Aldomaro Costa n°83. Faltariam ainda 193 casas se considerarmos que em cada casa vive só uma família, no entanto, na comunidade a maioria das casas possui mais de uma família morando; famílias que construíram suas casas ao longo de muitos anos e com muito trabalho e que não querem sair dali!

Para a construção do Teleférico roubaram a nossa única área de lazer - A Praça Américo Brum! Para a construção de uma rua que vai ligar o Teleférico à Vila Portuária várias famílias da área da “Toca” já foram desapropriadas com valores baixíssimos! Para a construção de um centro esportivo, que também não nos consultaram sobre a necessidade, a área conhecida como AP na Ladeira do Farias foi demolida e desalojou cerca de 60 famílias de um dia para o outro. Nesse caso a Prefeitura demoliu casas ainda com pessoas dentro!!! Uma moradora ainda mora neste imóvel e vem resistindo a todo tipo de pressão, obrigando a prefeitura a suspender os trabalhos de um complexo esportivo. Ela mora no AP há 35 anos e tem direito de posse daquele imóvel! O nosso Direito à Moradia não está sendo respeitado!

Além disso, temos vivido de domingo à domingo em meio aos entulhos, buracos, lixos, atormentados pelo barulho das máquinas da obra que não param nem de noite e impedidos de transitar pela Ladeira do Barroso que é uma das únicas ruas que liga a Providência à Central do Brasil. Sentimos o impacto ambiental na pele e mesmo assim a obra foi liberada sem nenhum Estudo de Impacto Ambiental prévio! O impacto de vizinhança também não é considerado! Há pessoas que já saíram do Morro e que estão sem escola para os filhos, longe de parentes e amigos! O valor dos aluguéis já subiu! Daqui a pouco não conseguiremos mais pagar!

Gostaríamos que o povo da cidade do Rio de Janeiro soubesse que os moradores da Providência não são invasores nem contra a urbanização! Somos mulheres e homens que moramos aqui porque temos uma história aqui e precisamos sobreviver! A maioria dos moradores está aqui há mais de 20 anos, toda nossa vida é aqui, a dos nossos filhos, dos nossos netos! Tudo é perto, escola, hospitais, trabalho, mercado, lazer etc. Acreditamos a Prefeitura é a principal responsável por todo esse transtorno e estamos unidos para garantir que nenhuma casa mais seja derrubada e que as melhorias nos beneficiem!
Para finalizar, o legado social da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016 que queremos é permanência na Providência e a garantia de que também poderemos viver nesta cidade maravilhosa! Pedimos à população carioca que nos ajude a divulgar o que está acontecendo com a nossa cidade!

Comissão de Moradores da Providência e Fórum Comunitário do Porto



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segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Dois pesos, duas medidas


Mídia conservadora não mostra desvios de gestores tucanos

Por Rui Zilnet

A partir da posse do presidente Lula, em 2003, o Brasil foi contaminado por uma onda de combate à corrupção como nunca visto. O assunto passou a ser encarado como grande novidade, como acontece até os dias atuais. Parece que no período dos governantes que antecederam Lula o patrimônio público era tratado com respeito pelos gestores públicos e a tal corrupção não existia.

E, hoje, quando se fala em corrupção, o alvo é unicamente a esquerda, principalmente o PT, obviamente, o maior e mais influente partido do país, não só por ser o partido do governo, mas por concentrar o eleitorado da massa produtiva, que sempre foi ignorada pelos grupos que governaram o Brasil desde o início da República até a era Lula.

Para a grande mídia, respeitada cegamente pela elite brasileira e, infelizmente, por grande parcela da população pobre alienada, que se mantém ao cabresto eleitoreiro dos partidos da direita, a atual gestão política brasileira não é ideal porque contraria veementemente seus interesses econômicos.

A mídia conservadora jamais noticia fatos de corrupção e outras mazelas que envolvam os partidos de oposição ao atual governo, simplesmente porque subestima a inteligência da população antenada, que busca informação por outros meios não comprometidos com privilégios da elite brasileira.

Assim, nenhum veículo da “grande mídia” noticiou, nas duas últimas semanas do ano passado, que no dia 21 de dezembro, a Polícia Federal, o Ministério Público Federal (MPF) e a Controladoria Geral da União (CGU) deflagraram uma operação para desarticular um esquema de desvio de recursos federais destinados a programas assistenciais e ações da prefeitura de Leopoldo de Bulhões (GO), a 54 quilômetros de Goiânia, capital do estado. Mas, esta mesma mídia, não cessa fogo contra Lula, Dilma e seus aliados.

Em Leopoldo Bulhões, uma cidade com 7875 habitantes (Ibge/2010), nos últimos dois anos houve um desvio de cerca de R$ 1,9 milhão, que deveriam ter sido aplicados nas áreas de saúde, educação e desenvolvimento social. Com esta verba deveria ter sido construída pelo menos uma creche e adquirido um veículo para transporte de estudantes.

Na operação, denominada “Fundo Falso”, foram cumpridos cinco mandatos de busca e apreensão. Os policiais federais fizeram buscas na sede da prefeitura de Leopoldo Bulhões, na casa do prefeito, Raimundo Nonato Rodrigues (PSDB), e em um escritório de contabilidade.

Durante a auditoria da CGU, foram encontrados extratos bancários adulterados relativos à prestação de contas e irregularidades na execução do convênio para a construção da creche e na aquisição do veículo escolar.

Moradores do município denunciam irregularidades e problemas, como o atraso de mais de cinco meses no pagamento dos salários de servidores e professores, escolas fechadas, e a precariedade do atendimento nos postos de saúde.

Então, como em tantos outros municípios brasileiros, onde a má gestão e a corrupção estão arraigadas, o governo do município de Leopoldo Bulhões é do PSDB.

Para a mídia conservadora, que somente visa seus próprios interesses e de seus comparsas, serão sempre dois pesos e duas medidas.

Fonte: Agência Brasil

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segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Os fatos da história se repetem


“Os paralelos entre Vargas e Lula – 2”


Por Luiz Nassif, em Luiz Nassif On Line

Os tempos são diferentes, o nível de desenvolvimento brasileiro é outro.
Mas há pontos em comum entre a luta política do período Vargas-Jango e do período Lula-Dilma.

Em comum, o fato da oposição ter escassas possibilidades de tomar o poder pelo voto. Assim, o protagonismo é assumido por grupos que levam a luta política para outros campos, extra-eleitorais.

No caso de Vargas, essa aglutinação da oposição se deu no segundo governo, com a imprensa livre das amarras da censura do Estado Novo. No caso de Lula, na aliança mídia-PSDB que se forma no pós-mensalão.

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Havia duas maneiras de enfrentar o clima pre-conspiratório. A primeira, compondo alianças, diluindo pressões, apostando na normalização econômica e política, até ser aceita pelo status quo; a segunda, partindo para o confronto.

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Dilma Rousseff claramente está apostando todas suas fichas no primeiro caminho.

Do período pré-posse à queda, Jango balançou entre esses dois movimentos: o da conciliação, típico da sua personalidade, e da radicalização, conduzido pelo cunhado Leonel Brizola. Sua indefinição derrotou-o.

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Quando Jânio renunciou, dos obstáculos apareceram para a posse de Jango.
O primeiro, uma enorme dívida junto ao Banco do Brasil; o segundo, a resistência de setores empresariais e militares, que articulavam desde a campanha presidencial que elegeu Vargas.

A dívida junto ao BB foi resolvida de forma habilidosa e até hoje não revelada, envolvendo troca de chumbos entre bancos privados e o BB.

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Já a resistência dos conspiradores foi enfrentada com uma operação heroica, comandada a partir de Porto Alegre por Leonel Brizola.

No Rio, ocorriam as negociações. Fechou-se um acordo pelo qual Jango assumiria se dentro de um regime parlamentarista e tendo na Fazenda um Ministro responsável, que impedisse loucuras populistas.

A escolha recaiu sobre o banqueiro Walther Moreira Salles.
Os dois episódios mostram que Jango estava totalmente despreparado quando o cavalo da presidência passou encilhado por ele.

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Moreira Salles renunciou, depois que Jango tentou empurrar goela abaixo um plano econômico preparado por seu assessor Cibilis da Rocha Viana. Mais tarde, Jango reconquistou o presidencialismo, atropelando o acordo político inicial. E indiciou Carvalho Pinto para Ministro da Fazenda tentando recuperar a confiança. E foi oscilando assim até o fim.

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A Revolução Cubana foi o fator determinante para os problemas da época.
Reforçou, na oposição, o discurso da subversão, contra um presidente que, em toda sua vida, jamais foi adepto de soluções de força. E, no PTB, a ideia de resistir ao golpe através da mobilização popular.
Em nenhum momento Jango cuidou de preparar-se, junto às demais forças de Estado, como as Forças Armadas. Permitiu manifestações de que ajudaram a reforçar o discurso dos conspiradores, de quebra da hierarquia.

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No caso de Dilma, sua estratégia é baixar a fervura da água.
Faz isso com uma política econômica desenvolvimentista mas cautelosa, na qual o combate à inflação ainda é prioritário; com declarações, até à exaustão, de fé nas instituições, inclusive na mídia.

Se é a estratégia correta, o tempo dirá. Se a economia for bem, a estratégia será eficaz.

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Os desafios da presidenta Dilma


"Brasilia e a engrenagem"

Por Delfim Neto, em Carta Capital

Antes de lembrar os inegáveis sucessos desses dois anos de governo da presidenta Dilma Rousseff na administração dos problemas da economia, decidi entrar direto na discussão do que me parece o maior desafio que ela terá de enfrentar (e vencer) nos dois anos que começam hoje, janeiro de 2013. O Brasil precisa aumentar fortemente o ritmo dos investimentos para voltar a crescer 5% ao ano, o que vai acontecer quando funcionar a engrenagem fundamental que move todo o sistema das economias de mercado, a confiança que deve existir entre o setor privado e o Estado.

Os investimentos retornarão quando se reforçar nos empreendedores a certeza de que serão tratados com justiça, com regras de jogo amigáveis aos mercados, claras e definitivas e com a garantia de que haverá respeito rigoroso à estabilidade dos contratos. De um lado, é vital que o setor privado entenda as dramáticas dificuldades que cercam a administração do Estado, aceitando o fato de que o poder incumbente é o regulador dos mercados para aumentar a competição num ambiente favorável aos negócios. Por sua vez, a administração do Estado deve manobrar com inteligência e paciência e obter a cooperação do setor privado para a realização de seus objetivos.

Nesses dois primeiros anos, desde a posse em janeiro de 2011, a presidenta Dilma Rousseff enfrentou e venceu outros graves desafios que pareciam insuperáveis, o maior deles uma elevadíssima taxa de juros que se eternizava. Administrado com extrema competência, o Banco Central comandou um sofisticado e cauteloso processo de redução dos juros, sustentado na mais alta instância política pela atenção direta da presidenta Dilma, até trazer o juro básico ao nível mais civilizado de 7,25%, em 12 meses. Isso depois de 15 anos de prática da mais alta taxa de juros do mundo, que alimentou uma sobrevalorização cambial, causando enormes prejuízos à manufatura nacional.

É de justiça reconhecer que, no exercício da política monetária, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, mostrou-se muito mais antenado com a realidade brasileira e com a situação da economia mundial do que a maioria dos nossos “especialistas” do mercado financeiro e das próprias autoridades monetárias dos países ditos “centrais”. A redução da taxa de juros real foi um passo muito importante que vai ter consequências sérias no futuro. Não é sem motivo que nossos mais ativos e ousados fundos de investimento estão buscando, no exterior, alternativas para a redução dos rendimentos que obtinham no Brasil.

De dezembro de 2011 a novembro de 2012, a Bolsa mexicana aumentou 15% em moeda local e 23% em dólares; a colombiana, 14% e 22%, respectivamente, enquanto a Bovespa aumentou 1,6% em reais e perdeu 10% em dólares. Isso explica “o porquê” de o Brasil ter deixado de ser o queridinho que era do mercado financeiro, quando as aplicações rendiam, aqui, 30% ao ano, em dólares, graças à soma do crescimento da Bovespa e da valorização do câmbio… Muitos ainda choram o fato de o Brasil não ser mais o pernil com farofa e ameixa oferecido nas festas neste fim de 2012 na City londrina ou em Wall Street.

O investidor nos setores de produção de bens não financeiros dá menos importância a esse fato, porque olha o mercado com “olhos mais longos” e vê um país com 200 milhões de habitantes, com renda per capita de 12 mil dólares, que, entre 2006 e 2011, cresceu à taxa anual de 3,2%, com uma inflação média de 5%, com uma sólida política fiscal (gráfico) e que recentemente foi classificado, pela Boston Consulting Group (BCG), entre 150 países, como o que melhor utilizou o crescimento econômico dos últimos seis anos para elevar o padrão de vida e o bem-estar da população (em meio à crise que continua massacrando boa parte do mundo). O resultado da consulta é explicado pela inserção no mercado de uma ampla classe média, que vai diversificar seu consumo e exigir cada vez mais qualidade dos bens e serviços no futuro. E também explica a “sustentabilidade” em alto nível do prestígio internacional (e nacional) do ex-presidente Lula e da presidenta Dilma Rousseff (gráfico: Inclusão Social das Classes C e D).

A presidenta frequenta, ainda, nestes momentos finais do Ano-Velho e início do Ano-Novo, a pedreira da questão energética e não é só no caso da renovação das concessões das usinas hidrelétricas, mas também da partição da produção no pré-sal entre os entes da Federação. O encaminhamento das discussões para as Casas do Congresso Nacional é a solução correta. Não houve quebra de contrato no caso da energia nem de outros setores. Não é justo calcular a indenização das usinas pelo valor residual contábil, como pretendem alguns estados, porque ele incorpora todos os tropeços na construção de cada uma delas. Não foi razoável, porém, desrespeitar as relações impostas pela Federação, depois de ter rejeitado os pedidos de renovação que os estados fizeram no passado.

A presidenta Dilma agiu bem ao buscar solução para o sério problema do excessivo custo da energia no Brasil, uma questão complicada que está procurando corrigir, talvez, de uma maneira um pouco mais dura do que seria necessário, mas que precisa ser feita. Espera-se, finalmente, a convocação no segundo semestre de 2013 dos prometidos leilões.
As medidas tomadas no exercício das políticas monetária, fiscal e cambial estão na direção correta. Pode-se discutir a forma, mas elas estão corrigindo, ou tentando corrigir, alguns dos defeitos fundamentais da economia brasileira. Isso contempla desde a bem-sucedida política de queda da taxa de juros real, a recuperação da taxa de câmbio proporcionada pelo controle do movimento de capitais, as desonerações das folhas salariais, e o excepcional esforço para aumentar a inclusão social.

O governo, quando facilita o acesso ao crédito, quando estimula sua expansão, está promovendo o crescimento do consumo, deixando claro que esse modelo ainda tem muito que contribuir para a inclusão social. O que falta agora é um poderoso estímulo ao investimento privado e o restabelecimento de uma relação de confiança entre o governo e o setor privado.

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domingo, 6 de janeiro de 2013

Operação 2014


“Dilma e o destino”
Por Mino Carta*, em Carta Capital
Há situações que me causam alguma perplexidade. Durante o governo Lula o empresariado queixava-se dos juros escorchantes, com exceção dos banqueiros, está claro. De sua alegria cuidava o presidente do BC, Henrique Meirelles. Em compensação, o vice-presidente da República, o inesquecível e digníssimo José Alencar, defendia com ardor a demanda dos seus pares.
Agora o governo Dilma abaixa os juros, e todos se queixam, em perfeito uníssono. Busco uma explicação, embora me tente recorrer a um dos grandes escritores do absurdo, movido pela convicção de que somente eles seriam capazes de explicar o Brasil. Este é um país que consegue viver contradições abissais, a começar pelo seguinte fato: atravessamos no mesmo instante épocas diferentes. A modernidade tecnológica e a Idade Média política e social.
No caso dos juros, os lances mais recentes do governo Dilma revelaram outro fato bastante significativo: muitos brasileiros que se dizem empresários são, de verdade, apenas e tão somente especuladores. Contaminados pelo vírus do neoliberalismo, acertaram sua irredutível preferência pela renda no confronto com a produção, e a baixa dos juros os atinge na parte mais sensível do corpo humano, ou seja, o bolso, como disse há muito tempo o professor Delfim Netto.
Seria preciso assumir o autêntico papel do empresário e, em vez de acompanhar os movimentos das bolsas e das oligarquias financeiras, trabalhar para produzir e enfrentar a concorrência e riscos variados como, creio eu, vaticinava Adam Smith. Os próprios banqueiros perdem benesses e têm de arregaçar as mangas para voltar às tarefas da Banca di San Giorgio.
O governo Dilma dá um passo adiante em relação àquele que o precedeu. Mexe com os interesses do poder real, conforme a opinião de analistas atilados. Ousa o que Lula não ousou. E o balanço da primeira metade do seu mandato há de registrar esse avanço em primeiro lugar.
É justo perguntar aos nossos botões por que um país tão favorecido pela natureza não atingiu o grau de desenvolvimento que lhe compete. E a resposta é inescapável: a casa-grande ficou de pé e conseguiu, sem maiores esforços, a bem da verdade, manter a Nação atada ao seu próprio tempo de prepotência. “Eles querem um país de 20 milhões de habitantes e uma democracia sem povo”, dizia Raymundo Faoro.
Poder absoluto de um lado, submissão do outro. Getúlio Vargas, eleito democraticamente em 1950, tentou enfrentar a casa-grande e morreu suicidado. O novo desafio demorou 48 anos e começou com a eleição de Lula, início de um capítulo inédito da história, este por ora a mostrar-se duradouro. Como se deu com Getúlio, mas em circunstâncias diferentes, o povo identificou-se com seu líder. No entanto, ao contrário de Getúlio, Lula é seu povo, e chegou depois de uma ditadura de 21 anos imposta pela casa-grande e de uma fase da chamada “redemocratização”, na prática voltada à manutenção do poder real e dos seus privilégios medievais.
Dilma, nesses seus últimos dois anos de mandato, deu continuidade à obra do antecessor sem deixar de conferir marca pessoal ao desempenho. De saída, livrou-se de ministros incômodos, como o exorbitante “operador” Antonio Palocci, ou Nelson Jobim, atucanado militarista. Prosseguiu pelos caminhos traçados por Lula na política social e exterior e foi recebida mundo afora como digna sucessora do “cara”. Lança, enfim, as bases de uma política econômica afinada com os objetivos de um governo social-democrático habilitado à contemporaneidade do mundo.
Janus bifronte mostra o cenho franzido na face que encara o passado, enxerga um 2012 difícil, de desenvolvimento econômico medíocre, abalado por uma crise mundial muito antes que brasileira. Não está desanuviado o rosto que olha para o futuro. O ministro Mantega promete em 2013 um crescimento de 4%, ou pouco mais, índice excelente nas circunstâncias. Não me arrisco a analisar a promessa. As dificuldades para Dilma se espraiam bem além da situação econômica, a despeito das influências que esta exercerá em outros quadrantes.
A “Operação 2014”, desencadeada pela mídia contra Lula e contra o governo não arrefecerá certamente na perspectiva do pleito do ano próximo. De certa maneira, a campanha eleitoral já partiu e definiu seus temas recorrentes. Sim, os tempos mudaram e os porta-vozes do poder real não alcançam a maioria da Nação. Sobram, porém, os problemas criados dentro do PT, da base governista e até do governo. Semeados inclusive pelo Supremo Tribunal Federal, lunaticamente inclinado a subverter as regras basilares da democracia e a agredir a Constituição. Será que o ministro da Justiça tem mesmo de resignar-se diante de tanto descalabro?
Assustam, sejamos claros, um STF e um procurador-geral da República claramente engajados na Operação 2014. Para seu próprio bem, cabe ao governo uma reação à altura, também em outra frente, para reestruturar o Partido dos Trabalhadores, hoje dividido, depauperado e em estado de confusão. Neste campo, a intervenção do fundador é indispensável. Lula é o líder em condições de conduzir o partido no retorno ao passado, para reencontrar aquela agremiação que o sustentou por três eleições e enfim o levou à Presidência em 2002.
Quanto à base governista, os problemas parecem insolúveis. Governar exige alianças de ocasião e as melhores intenções acabam por lastrear o caminho do inferno. Há parceiros confiáveis e outros que veem na carreira política a escada da vantagem pessoal. Há quem sugira uma ação para buscar o favor do empresariado. Talvez aqui a tarefa seja menos complicada do que a tentativa de formular planos comuns com, digamos, o PMDB do vice-presidente Michel Temer e do senador José Sarney, ou com o PDT de Miro Teixeira e outros do mesmo jaez.
Permito-me, de todo modo, como se daria a aproximação ao empresariado descontente com a política econômica. Por meio de um seminário sobre o capitalismo de Adam Smith e John Maynard Keynes? Mesmo assim, tentativas menos ingênuas poderiam ser experimentadas, com algum êxito, quem sabe.
Pego-me a olhar para os colegas da redação, dobrados sobre seus computadores, intérpretes da modernidade, enquanto eu batuco na minha -Olivetti Linea 88. Sou francamente arcaico, mas temo que o computador me engula como fez e faz com tantos outros. Não escapo à sina, também eu mereço Ionesco, ou Beckett. Certo é, sem qualquer parentesco com o absurdo, que às vezes o bonde da história passa pela porta de casa. Não da minha, é óbvio. Falo de Dilma Rousseff. Sinto nela a crença, a energia, a determinação, a capacidade e o porte dos escolhidos do destino.

* Mino Carta é diretor de redação da revista Carta Capital.
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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Ministério Público mineiro nega acusações contra Carta Capital


Por Rui Zilnet

Após algum tempo dedicado exclusivamente à fotografia, venho abrir o ano relatando o episódio sobre artigo publicado no portal Comunique-se, envolvendo o Ministério Público de Minas Gerais e a Revista Carta Capital.

Na edição da última quarta-feira (2), o portal Comunique-se divulgou que o Ministério Público havia acusado a Revista Carta Capital de ter forjado documento para produzir matérias sobre o mensalão mineiro, também conhecido como “mensalão tucano”, “valerioduto tucano” e “tucanoduto”, na época da tentativa de reeleição do então governador mineiro, Eduardo Azeredo (PSDB), em 1998.

Contudo, o Ministério Público de Minas Gerais, em nota enviada ao redator-chefe da revista, desmente as afirmações constantes na matéria do Comunique-se.

Íntegra da nota do MP de Minas Gerais:


Prezado senhor Sergio Lirio, redator-chefe da revista Carta Capital,

Sobre matéria recentemente publicada pelo portal Comunique-se, o Ministério Público de Minas Gerais afirma que em nenhum momento acusou a revista Carta Capital de forjar documentos.

O objetivo da nota enviada por meio do ofício n.º 108/2012-SCI-PGJ para a revista Carta Capital foi alertar os responsáveis pela publicação sobre a existência de um documento falsificado, no qual foi incluída, de forma inidônea, a assinatura de um dos membros desta Instituição.

É quanto a essa falsificação que foi solicitada a instauração de inquérito policial. Para o Ministério Público de Minas Gerais, é imprescindível que os fatos sejam apurados e os responsáveis pela divulgação de documentos inverídicos sejam identificados.

Informamos ainda que estamos enviando para o portal Comunique-se cópia do ofício enviado a Carta Capital em 3 de dezembro de 2012. Esperamos, assim, esclarecer qualquer mal entendido.

Ficamos à disposição para mais informações, reafirmando o respeito do Ministério Público de Minas Gerais pelo trabalho da imprensa e, em especial, pelo trabalho de tão renomada e respeitável revista como a Carta Capital.

Atenciosamente,

Superintendência de Comunicação Integrada
Ministério Público de Minas Gerais


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