Por Vladimir Platonow - Agência Brasil
Abdias Nascimento |
A trajetória de vida do líder negro foi destacada pelo fundador do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (Ceap), Ivanir Santos. “Foi um lutador incansável pela igualdade racial no Brasil, em defesa das comunidades negras. Tanto em suas contribuições no teatro quanto nas artes plásticas e na política, ele sempre levou à sociedade a denúncia do racismo”, frisou Ivanir.
A luta de Abdias pela instituição de cotas nas universidades foi lembrada pelo diretor executivo da organização não governamental (ONG) Educafro, Frei David dos Santos. “O Abdias deixa um legado fortíssimo. Ele tinha uma convicção: jamais o Brasil será melhor, se o negro não tiver melhores condições e oportunidades. Em 2005, quando fazíamos um protesto em frente à UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro], Abdias fez questão de participar, mesmo em cadeira de rodas”, recordou Frei David, que ainda cobra da universidade maior presença de alunos negros nos cursos.
Abdias Nascimento também teve participação no jornalismo, com registro profissional desde 1947 no sindicato da categoria, conforme lembrou Angélica Basthi, da Comissão de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-RJ).
“Ele foi, durante muito tempo, uma das principais – se não uma das únicas – vozes de combate ao racismo. Deixa de legado a necessidade de se dar continuidade à proposta de corrigir desigualdades com base na raça e na cor e também prosseguir com as ações e os sonhos que ele teve, de uma sociedade mais justa e mais igualitária”, disse Angélica.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro lançou este ano o Prêmio Abdias Nascimento, que está com inscrições abertas até 19 de agosto. Entre os assuntos sugeridos para as matérias que poderão concorrer ao prêmio, estão saúde da população negra, intolerância religiosa, juventude negra, ações afirmativas, empreendedorismo, desigualdades, direitos humanos, relações raciais, políticas públicas, comunidades tradicionais e discriminação racial.
Nascido em 1914, no município de Franca, em São Paulo, Abdias Nascimento começou cedo a luta pela igualdade racial. “Em 1936, ele foi preso por protestar contra a exigência de entrar numa boate da capital paulista pela porta dos fundos, por ser negro”, lembrou a esposa, Elisa Larkin Nascimento, diretora do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro).
Em 1944, já vivendo no Rio de Janeiro, ele fundou o Teatro Experimental do Negro. Marco na luta pela cidadania do artista negro, o grupo contribuiu para a formação profissional de dezenas de atores. O jornal Quilombo, criado por Abdias em 1947, já abordava questões que só bem mais tarde foram concretizadas em políticas públicas no Brasil.
O ativista sofreu pressões durante a ditadura militar e ficou exilado 13 anos nos Estados Unidos. De volta ao Brasil, Abdias Nascimento iniciou carreira política, tendo sido deputado federal, nos anos 80, e senador, de 1991 a 1992 e de 1997 a 1999 pelo PDT.
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Abdias faleceu no Hospital Federal dos Servidores do Estado, segundo a assessoria de comunicação por parada cardíaca, ou insuf.cardíaca, devido a complicações de diabetes.
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