sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Ambev, a rainha da bandalha na Lapa

Por Rui Zilnet

Início de fim de semana, com uma bela tarde ensolarada e quente de sexta-feira, propício a uma esticada até o bairro da Lapa, no Centro do Rio de Janeiro, após a saída do trabalho ou da praia, para o tradicional encontro com os amigos. Na Lapa, o que não faltam são boas opções de lazer e entretenimento. Casas de ótima qualidade, com shows ao vivo, chopp e cervejas sempre na temperatura ideal, sem contar com a culinária que atende desde os mais simples paladares, até os gostos mais refinados.

Caminhões estacionados irregularmente em ambos os lados da rua
Se fossemos avaliar somente por este lado, seria uma maravilha. Porém, os bastidores do lazer de alguns, acaba por promover transtornos em ordem de grandeza incalculáveis a milhares de pessoas da Cidade do Rio de Janeiro. A Avenida Mem de Sá, a artéria principal do lazer, onde estão instaladas as principais casas, é uma das principais vias de ligação entre Zona Sul e Centro com a Zona Norte e Região Portuária.

Pedestres driblam obstáculos impostos pelas obras
Desde que o atual governo do Rio assumiu a Prefeitura, uma série de obras estão sendo implementadas na região, que por si só já causam grandes transtornos aos pedestres e ao trânsito de veículos. As obras são necessárias e que o bairro está ficando mais bonito, isto é inegável. Mas, os abusos cometidos pelas empresas entregadoras de bebidas são absurdos. A Ambev faz o que quer nas ruas do centro. E, pior, sempre sob a sombra da impunidade.

Estacionamento irregular promove engarrafamento no trânsito
Com o advento das obras de revitalização da Lapa, foi instalada uma unidade do “Choque de Ordem”, que, entre outras tarefas, deveria controlar a circulação de veículos e fiscalizar o estacionamento irregular nas vias públicas do entorno, principalmente na Avenida Mem de Sá e na Rua Riachuelo, dois importandes corredores de tráfego da Cidade. Contudo, a atuação do “Choque de Ordem” se restringe a reprimir ambulantes que lutam pela sobrevivência e aos motoristas de veículos particulares. Para a Ambev, o paraíso. Comportamento suspeito da instituição pública.

Estacionamento irregular: transtorno para veículos e pedestres
É absurdo o caos no trânsito do Centro do Rio de Janeiro, promovido diariamente pelo estacionamento irregular dos caminhões da Ambev, que permanecem durante longos períodos, para descarga das bebidas, livres da presença de qualquer agente fiscalizador. Telefonar aos órgãos responsáveis ou requisitar pessoalmente na unidade do “Choque de Ordem”, é perda de tempo, porque nada acontece. A impunidade parece ser institucionalizada.

Entendemos que a descarga das bebidas é necessária, sim. Mas precisa haver critérios para tanto. Que isto aconteça em horários apropriados, durante a madrugada, entre 4 e 6 horas da manhã. As autoridades constituídas precisam aparecer urgentemente, estabelecendo regras de horário e comportamento, que funcionem para que a atividade não interfira no bem estar do público que circula pelo local, principalmente motoristas e passageiros do transporte coletivo. Se bem que estas regras já devem constar nas Posturas Municipais

As fotos que ilustram este texto foram tomadas no início da tarde desta sexta-feira, por volta das 13h30, horário em que começa a se estabelecer o caos no trânsito do Centro do Rio. Além do flagrante desrespeito à legislação, os veículos da Ambev são emplacados em outro estado, configurando a não contribuição de impostos sobre o trânsito ao Estado do Rio de Janeiro (Ambos com placas de Feira de Santana – BA – JSU-9212 e NTV-8723).

Esperamos que alguma autoridade mostre seriedade e acabe com as bandalhas promovidas por empresas como Ambev e Coca-Cola.


Texto e fotos: Rui Zilnet

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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Trabalho escravo, a mola do capitalismo no Brasil




Por Carla Roman, em Carta Capital

O trabalho escravo rural no Brasil é uma das peças que constituem o desenvolvimento do capitalismo de ponta no país. Divulgado na terça-feira 26, um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) traçou um perfil dos trabalhadores e empregadores desse processo. Adonia Prado, pesquisadora Grupo de Estudo e Pesquisa Trabalho Escravo Contemporâneo da Universidade Federal do Rio de Janeiro e que participou do estudo, alerta que esse tipo de trabalho, abolido em 1888, faz parte da estrutura do capitalismo avançado e da produção de commodities atuais.

“Ele é funcional a esse modo de produção globalizado altamente concentrador de renda”, explica Prado. Segundo a pesquisadora, essa exploração vem ganhando espaço no mundo todo e existe, em graus diferentes, em quase todos os países. São empreendimentos de ponta, diz ela, que produzem para exportação. Na cidade, o trabalho escravo também está ligado a grandes marcas, como foi o caso recente com a loja Zara, que comprava roupas de confecções ilegais e escravagistas. “Não é resquício de outros tempos”, diz ela.

O estudo da OIT mostrou que a maior parte dos trabalhadores era negra (18,2%) e parda (62%) e veio do nordeste para as regiões Norte e Centro-Oeste, onde acabaram “presos” em fazendas escravagistas. O endividamento e falta de localização – as fazendas são afastadas de centros urbanos e pontos de referência e em regiões estranhas aos empregados – são as principais razões para que os trabalhadores não consigam sair dessa condição. Apesar de não ter visto nenhum capataz nas visitas de fiscalização para a produção do estudo, Prado aponta que documentos de seu grupo de estudos constataram a presença dessa figura, que utiliza a violência como forma de coerção para manter a prisão, em outras visitas feitas.

Na maioria dos casos, o trabalhador é obrigado a comprar comida e equipamento do patrão. Ao final do mês, ele deve mais do que ganhou. “Na maioria dos casos o trabalhador pobre tem um senso moral muito aguçado”, comenta Prado. “E fica com a consciência culpada; acha que deve ao patrão”, diz ela.

“Vale a pena para os empregadores manter essa condição sub-humana”, diz ela. O empregador, cujo perfil é do homem branco e nascido na região sudeste, considera que o custo final do produto é menor que o do trabalhador que tenha seus direitos protegidos. A pesquisadora explica que até hoje nenhum empregador foi para a prisão por ter propriedades com trabalho escravo, apesar de inúmero julgamentos que já ocorreram. “No máximo pegam pena de prestação de serviços comunitários”, conta ela.

Prado indica que há um movimento de rechaçamento deste tipo de prática. O Ministério do Trabalho disponibilizou em sua página uma lista com 245 empregadores que devem ser evitados tanto na hora de pedir emprego quanto pelos compradores de seus produtos. “Essa indicação faz com que esses empregadores percam mercado porque muitas empresas inclusive fora do Brasil deixam de se interessar”, diz ela, que aponta para a criação de dificuldades econômicas para os empreendedores como uma das maneiras de se erradicar esse modo de produção desumana.


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quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Bicicross: Taça Brasil Open em Ipanema

O Rio de Janeiro sediará no próximo fim de semana (28 a 30 de outubro), na Praia do Arpoador, a Taça Brasil Open de Bicicross. Os principais pilotos de BMX do país disputarão a premiação total de R$ 15 mil, em uma pista desenvolvida especialmente para o evento, onde espera-se cerca de 150 participantes.

As eliminatórias da Taça Brasil Open de Bicicross acontecerão no sábado (29), e as finais no domingo (30). Cinco categorias disputarão o campeonato: Elite Man, Elite Woman, Junior Man, Junior Woman e Open Masculino (apenas para atletas nascidos a partir de 1994).

No último domingo (23), a convite da Federação de Ciclismo do Estado do Rio de Janeiro (FECIERJ), o piloto Tiago Fernando Vitor (fotos), bi-campeão mineiro na categoria Elite de bicicross, estava testando a rampa e pista para promover a validação para o evento. Fernando Vitor, natural de Betim (MG), é apontado como um dos 3 melhores pilotos do bicicross nacional. Em 7 anos já acumulou cerca de mais de 50 troféus.

O regulamento para participação nesta prova está disponível no site da Confederação Brasileira de Ciclismo (CBC) - http://www.cbc.esp.br, e as inscrições devem ser feitas em http://www.bikebros.com.br. O valor da inscrição é de R$ 50,00 por participante. A organização e realização do evento está a cargo da FECIERJ. Maiores informações pelos telefones 21-2620.6566 – 21-8448.6566 – 21-78042901


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"VOCE MERECE O INFERNO"

"Mas, quanto aos medrosos, e aos incrédulos, e aos abominaveis, e aos homicidas, e aos adulteros, e aos feiticeiros, e aos idólatras, e a todos os mentirosos, a sua parte sera no lago ardente de fogo e enxofre, que é a segunda morte." (Apocalipse 21.8) 



O que está no título acima - e no sub-título -, não é o que estou lhe desejando. É o apelo do missionário para conquistar seus adeptos. Mas, parece que não é uma boa estratégia, porque durante cerca de mais de 15 minutos que permaneci ali, escutando a pregação, não parou um único crédulo além deste humilde discípulo blogueiro, que deixou o orador visivelmente descontrolado. O pregador, com sotaque estrangeiro, mais gaguejou do que pronunciou alguma coisa coerente, principalmente depois que apontei a câmera em sua direção.

Isto aconteceu na tarde desta quarta-feira, no Largo da Carioca, no Centro do Rio de Janeiro, conhecido palco carioca, ideal para as mais diversas atividades, principalmente aos pastores mais radicais, que usam diariamente o lugar para praticar suas agressivas preleções. Além do amplo espaço, é um dos locais mais movimentados da Cidade do Rio de Janeiro.

No verso do cartaz:

'O DEUS DO NOVO TESTAMENTO AFIRMA: "TERRÍVEL COISA É CAIR
NAS MÃOS DO DEUS VIVO!" (Hebreus 10:31)

Pelo que ouvi do pregador, e o que está escrito em seu cartaz - frente e verso -, o quadro de Deus pintado por ele me assusta.

Espero que meus queridos leitores enriqueçam este post com seus comentários.



Texto e fotos: Rui Zilnet
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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Construção do Pensamento Conservador

“O perfeito imbecil politicamente incorreto”

Por Cynara Menezes*, em Carta Capital

Em 1996, três jornalistas –entre eles o filho do Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa, Álvaro –lançaram com estardalhaço o “Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano”. Com suas críticas às idéias de esquerda, o livro se tornaria uma espécie de bíblia do pensamento conservador no continente. Vivia-se o auge do deus mercado e a obra tinha como alvo o pensamento de esquerda, o protecionismo econômico e a crença no Estado como agente da justiça social. Quinze anos e duas crises econômicas mundiais depois, vemos quem de fato era o perfeito idiota.

Mas, quem diria, apesar de derrotado pela história, o Manual continua sendo não só a única referência intelectual do conservadorismo latino-americano como gerou filhos. No Brasil, é aquele sujeito que se sente no direito de ir contra as idéias mais progressistas e civilizadas possíveis em nome de uma pretensa independência de opinião que, no fundo, disfarça sua real ideologia e as lacunas em sua formação. Como de fato a obra de Álvaro e companhia marcou época, até como homenagem vamos chamá-los de “perfeitos imbecis politicamente incorretos”. Eles se dividem em três grupos:

1. o “pensador” imbecil politicamente incorreto: ataca líderes LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Trânsgeneros) e defende homofóbicos sob o pretexto de salvaguardar a liberdade de expressão. Ataca a política de cotas baseado na idéia que propaga de que não existe racismo no Brasil. Além disso, ações afirmativas seriam “privilégios” que não condizem com uma sociedade em que há “oportunidades iguais para todos”. Defende as posições da Igreja Católica contra a legalização do aborto e ignora as denúncias de pedofilia entre o clero. Adora chamar socialistas de “anacrônicos” e os guerrilheiros que lutaram contra a ditadura de “terroristas”, mas apoia golpes de Estado “constitucionais”. Um torturado? “Apenas um idiota que se deixou apanhar.” Foge do debate de idéias como o diabo da cruz, optando por ridicularizar os adversários com apelidos tolos. Seu mote favorito é o combate à corrupção, mas os corruptos sempre estão do lado oposto ao seu. Prega o voto nulo para ocultar seu direitismo atávico. Em vez de se ocupar em escrever livros elogiando os próprios ídolos, prefere a fórmula dos guias que detonam os ídolos alheios –os de esquerda, claro. Sua principal característica é confundir inteligência com escrever e falar corretamente o português.

2. o comediante imbecil politicamente incorreto: sua visão de humor é a do bullying. Para ele não existe o humor físico de um Charles Chaplin ou Buster Keaton, ou o humor nonsense do Monty Python: o único humor possível é o que ri do próximo. Por “próximo”, leia-se pobres, negros, feios, gays, desdentados, gordos, deficientes mentais, tudo em nome da “liberdade de fazer rir.” Prega que não há limites para o humor, mas é uma falácia. O limite para este tipo de comediante é o bolso: só é admoestado pelos empregadores quando incomoda quem tem dinheiro e pode processá-los. Não é à toa que seus personagens sempre estão no ônibus ou no metrô, nunca num 4X4. Ri do office-boy e da doméstica, jamais do patrão. Iguala a classe política por baixo e não tem nenhum respeito pelas instituições: o Congresso? “Melhor seria atear fogo”. Diz-se defensor da democracia, mas adora repetir a “piada” de que sente saudades da ditadura. Sua principal característica é não ser engraçado.

3. o cidadão imbecil politicamente incorreto: não se sabe se é a causa ou o resultados dos dois anteriores, mas é, sem dúvida, o que dá mais tristeza entre os três. Sua visão de mundo pode ser resumida na frase “primeiro eu”. Não lhe importa a desigualdade social desde que ele esteja bem. O pobre para o cidadão imbecil é, antes de tudo, um incompetente. Portanto, que mal haveria em rir dele? Com a mulher e o negro é a mesma coisa: quem ganha menos é porque não fez por merecer. Gordos e feios, então, era melhor que nem existissem. Hahaha. Considera normal contar piadas racistas, principalmente diante de “amigos” negros, e fazer gozação com os subordinados, porque, afinal, é tudo brincadeira. É radicalmente contra o bolsa-família porque estimula uma “preguiça” que, segundo ele, todo pobre (sobretudo se for nordestino) possui correndo em seu sangue. Também é contrário a qualquer tipo de ação afirmativa: se a pessoa não conseguiu chegar lá, problema dela, não é ele que tem de “pagar o prejuízo”. Sua principal característica é não possuir ideias além das que propagam os “pensadores” e os comediantes imbecis politicamente incorretos.


* Cynara Menezes é jornalista. Atuou no extinto "Jornal da Bahia", em Salvador, onde morava. Em 1989, de Brasília, atuava para diversos órgãos da imprensa. Morou dois anos na Espanha e outros dez em São Paulo, quando colaborou para a "Folha de S. Paulo", "Estadão", "Veja" e para a revista "VIP". Está de volta a Brasília há dois anos e meio, de onde escreve para a CartaCapital.

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