quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

São José do Norte, um local encantador

Rui Zilnet

A partir de hoje passo a descrever alguns aspectos de uma viagem iniciada ao Rio Grande do Sul, percorrendo várias cidades do interior gaúcho. A ordem dos relatos é aleatória, não condizendo necessariamente com o cronograma da excursão.  Este primeiro capítulo é dedicado à cidade litorânea de São José do Norte.

Cenário de São José do Norte para quem chega de lancha, destacando-se ao fundo as torres da centenária Igreja Matriz

São José do Norte é uma pequena, porém, acolhedora cidade localizada no extremo sul de uma península que separa a Lagoa dos Patos do Oceano Atlântico, distante cerca de 372 quilômetros da capital gaúcha e vizinha da cidade de Rio Grande, separada desta por um canal que liga a Lagoa dos Patos ao Oceano Atlântico.

O pescado é fruto de uma das principais atividades da economia local
Implantada em posição litorânea privilegiada, a cidade possui muitos casarões antigos, prevalecendo a arquitetura Colonial Portuguesa. O turismo ecológico, a agricultura (cebola, arroz e florestas de pinus) e a pesca constituem os pilares da economia local. Seus habitantes são alegres e receptivos. A base da gastronomia é de frutos do mar. Para quem prefere aventuras e esportes, a Praia do Mar Grosso está à espera.

Lanchas de passageiros e balsas ligam de Sao José do Norte a Rio Grande
A ligação entre a sede do município e o continente, por terra, se dá pela BR-101 (antiga “Estrada do Inferno”). Para quem chega de Rio Grande, o acesso ocorre através de lanchas e balsas pelo canal Miguel da Cunha, que liga a Lagoa dos Patos ao Oceano Atlântico. As lanchas transportam aproximadamente cerca de 200 passageiros e as balsas dezenas de veículos, inclusive carretas de grande porte e tonelagem.

A atividade pesqueira é componente natural do cenário do lugar
Na travessia do canal Miguel da Cunha, são consumidos 30 minutos com um cenário marítimo inesquecível, tanto da paisagem do lado de Rio Grande, com a imponência do seu porto e casario colonial, como a chegada em São José do Norte, onde se destacam à distância as centenárias torres da Igreja Matriz, inaugurada em l860, cujo santo padroeiro é São José, e a grande quantidade de embarcações pesqueiras que completam o cartão postal. 




Texto e fotos de Rui Zilnet. A reprodução é permitida para fins não comerciais, desde que seja citada a fonte e respeitados os créditos.
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sábado, 24 de dezembro de 2011

O complexo de vira-latas

“A ponte Rio-Niterói é, portanto, uma linda obra turística, cuja prioridade não se justifica em um país de escassos recursos que se defronta com necessidades berrantes que aí estão nesta mesma região do País, clamando pela ação do Governo”. (Eugênio Gudin, O Globo, 2/3/1974)

Por Roberto Amaral*, em Carta Capital 

'Para os lúdicos do conservadorismo, tudo o que significa investimentos
com vistas ao futuro deve ser adiado, como supérfluo.'
Foto: JupiterImages/AFP
Foi Nelson Rodrigues, em crônica às vésperas da Copa do Mundo de 1958 (Manchete esportiva, 31/5/1958), quando a seleção brasileira partia desacreditada para a disputa na Suécia, quem grafou o conceito de “complexo de vira-latas”, resumo de um colonizado e colonizador sentimento de inferioridade em face do estrangeiro e do que vem de fora, seres e coisas, ideias e fatos.

Impecável a definição, cujas raízes nos levam à empresa colonial e ao escravismo, à dependência cultural às diversas Cortes que sobre nós reinaram e ainda reinam.

Peca, porém, o teatrólogo genial e reacionário militante ao atribuir tal “complexo” a um fenômeno nacional, como se fosse ele um sentimento de nosso povo, de nossa gente, pois nada é mais povo brasileiro do que o torcedor de futebol.

Esse sentimento existe, mas regado pela classe dominante brasileira, desde a Colônia, que sempre viveu de costas para o país e com os sonhos, as vistas e as aspirações voltadas para a Europa. Terra de “índios desafeitos ao trabalho”, de “negros manimolentes e banzos” e “europeus de segunda classe”, nosso destino, traçado pelos deuses, era a de eternos coadjuvantes. História própria, industrialização, destino de potência… ah, isso jamais!

Nem no futebol, pois havíamos perdido as copas de 1950 e 1954 justamente porque éramos (eram nossos jogadores) um povo mestiço.

Pensar grande, pensar na frente, projetar-se no mundo e na História, isso é coisa de visionários ou políticos “populistas”.

Tal cantochão reacionário foi construído pelos pensadores dos interesses dominantes (desde os que no Império advogavam o “embranquecimento da raça” e por isso, só por isso, chegaram a admitir a abolição da escravatura), e ainda hoje é o refrão da direita impressa.

Para essa gente, o destino de nosso país era o de exportador de café e importador de manufaturas (“porque produzir aqui se podemos importar o produto estrangeiro, melhor e mais barato?”), e agora é o de exportador de soja e minério in natura. Amanhã, que os fados nos protejam, o destino que nos devotam é de exportadores de óleo bruto, como o Iraque, o Irã, a Venezuela, a Arábia Saudita…

O único engenho concedido ao nosso povo é o carnaval, comercializado pela tevê monopolizada. Mas dizem ao nosso povo os jornalões que não temos capacidade de construir meia dúzia de estádios.

Mesmo o futebol entrou em questionamento, depois que o Santos caiu de quatro nos gramados japoneses. A grande imprensa agora prescreve que o futebol brasileiro precisa reaprender com o catalão, repleto de atletas estrangeiros, inclusive, brasileiros…

Um bom representante desse pensamento conservador – que no Império ceifou pioneiros como Mauá – é Eugênio Gudin, criador (ao lado de Octavio Gouvêa de Bulhões) do ensino da economia em nosso país, e fundador do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas. Monetarista e anti-desenvolvimentista, anti-varguista e anti-juscelinista, iluminador do moderno neoliberalismo brasileiro, combatia a intervenção do Estado na economia, o apoio (com incentivos ou o que fosse) à industrialização, e defendia com unhas e dentes, desconsiderando a realidade objetiva, o equilíbrio financeiro e a austeridade fiscal.

Gudin, como a maioria dos economistas, gostava de falar em “custo de oportunidade”, que procura medir o que poderia ter sido feito em saúde, educação e mais isso e mais aquilo, com os gastos de determinada obra ou melhoramento. Por exemplo, quanto poderíamos ter investido em saúde se não investíssemos na transposição do São Francisco, em que pese ao preço de deixar à míngua milhões de brasileiros do semi-árido nordestino…

Por isso, Gudin, como a classe dominante e a direita impressa, foram contra Brasília e mesmo contra a ponte Rio-Niterói, e são, agora, contra o trem-bala que ligará Campinas-São Paulo ao Rio de Janeiro.

Ainda na ditadura, um falecido jornalão carioca insurgiu-se contra as obras do metrô em nossa cidade, sob o tacanho argumento de “que ainda não haviam sido esgotadas as possibilidades do trânsito de superfície”.

Chateaubriand, nosso Cidadão Kane, mobilizou sua cadeia de jornais e rádios para combater os investimentos da União na triticultura gaúcha “porque era muito mais barato importar trigo dos EUA’”, que então renovavam seus estoques de guerra.

Agora mesmo há os que julgam desperdício os investimentos em hidroelétricas e em Angra III.

Ora, em país que de tudo carece, tudo é urgente e igualmente tudo é adiável. Mais importante do que o “custo de oportunidade” é a oportunidade do investimento, ainda que signifique o atraso de obras e serviços “inadiáveis”.

Assim foram os investimentos dos anos 50 na Petrobras (que Gudin e outros consideravam um desperdício, até por que “o Brasil não possuía petróleo”) e a seguir os investimentos da estatal em pesquisa, de que a prospecção em águas profundas é apenas um dos frutos. Aos míopes daquele então, pergunto: que seria o Brasil de hoje dependente da importação de petróleo? Que será o Brasil de amanhã sem energia elétrica?

Aí então é que não podemos pensar em saúde e educação universais. Mas, para os áulicos do conservadorismo, tudo o que significa investimento com vistas ao futuro deve ser adiado, como supérfluo. Daí o desmantelamento tecnológico de nossas forças armadas, daí o atraso da indústria nuclear, daí o atraso na indústria espacial, daí o atraso na produção de fármacos, na recuperação das ferrovias.

Paremos aqui, pois o rol é interminável.

O Brasil de hoje mostra a relevância dos “injustificáveis investimentos” na construção de Brasília (incorporando à economia mais da metade do território nacional) e da ponte Rio-Niterói, a qual, aliás, já dá sinais de saturação.

Todo mundo pode construir seu trem-bala. Podem o Japão, a China, a Itália, a França, a Espanha… mas o Brasil, não, pois aqui “há outras necessidades exigindo recursos”. E na China e na Espanha por acaso já não há mais nada pedindo investimentos? Seus críticos de boa e de má-fé reduzem o projeto à ligação entre as duas maiores metrópoles do país, ou seja, a um simples sistema de transporte, o que, convenhamos, já o justificaria.

Mas aos esquecidos lembremos o processo de urbanização que essa nova via proporcionará, criando em torno de seu trajeto e de suas estações novas condições de vida e moradia, desafogando os grandes centros, atraindo serviços e indústrias, ou seja, promovendo o desenvolvimento que ensejará investimentos em saúde, educação, saneamento etc.


* Roberto Amaral é cientista político. Foi ministro da Ciência e Tecnologia entre 2003 e 2004.
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Extração de ouro será retomada em Serra Pelada a partir de 2012

Agência Brasil

Quase 20 anos depois de o governo fechar aquela que foi a maior mina de ouro a céu aberto do mundo, a exploração de Serra Pelada, no Pará, será agora toda mecanizada. A empresa de mineração canadense Colossus Minerals Inc., associada à Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp), conquistou a permissão para explorar a área.

Os primeiros levantamentos feitos em uma parte do terreno de 100 hectares com permissão para ser explorada indicou a presença de, pelo menos, 50 toneladas do metal. Esse número deve ser atualizado pela empresa em janeiro, e a expectativa dos ex-garimpeiros é que o volume seja bem maior, já que a própria mineradora informou que o potencial de novas descobertas na propriedade é elevado.

"É basicamente ouro amarelo, paládio - que é um ouro branco -, prata e platina. Sendo que a incidência menor é de platina, mas, em compensação, o preço é dobrado em relação ao preço do ouro", explicou Antônio Ferreira Milhomem, diretor da cooperativa.

A antiga mina, que na década de 1980, foi alvo da maior corrida a metais preciosos da história da América Latina, chegou a ser conhecida como “formigueiro humano”, com mais de 80 mil garimpeiros trabalhando ao mesmo tempo. O ouro retirado deveria ser vendido exclusivamente à Caixa Econômica Federal. Na época, foram extraídas cerca de 40 toneladas do metal precioso, sem contar o que foi vendido clandestinamente. O grande buraco que os trabalhadores cavaram é hoje um lago com mais de 100 metros de profundidade.

Até a entrada em operação, a multinacional canadense terá investido R$ 320 milhões na construção da mina subterrânea, batizada de Nova Serra Pelada. O lucro, no entanto, será contado em bilhões de reais. Segundo o acordo feito entre a Colossus e a Coomigasp, que levou à criação da Serra Pelada Companhia de Desenvolvimento Mineral (SPCDM), 25% do lucro serão repartidos com os mais de 38 mil ex-garimpeiros da região associados à cooperativa e o restante ficará com a multinacional.

Para esses trabalhadores, que depois do fechamento da mina, há duas décadas, passaram a viver de bicos ou da renda que conseguiram com a venda do ouro, a retomada da produção em grande escala em Serra Pelada é a esperança de uma vida mais tranquila financeiramente. Pouquíssimos conseguiram enriquecer na época e, entre eles, raros souberam investir o que ganharam. Agora, organizados em cooperativa, esperam ganhar o suficiente para viver melhor.

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sábado, 10 de dezembro de 2011

O homem-bomba tucano

Provavelmente, Fórum foi a única revista brasileira a dedicar uma capa a Ricardo Sérgio de Oliveira, um dos personagens principais do livro de Amaury Ribeiro Jr, A Privataria Tucana.

Releia a matéria e conheça melhor o personagem. Aproveito este post pra informar que quem assinar a Fórum neste mês ganha um livro do Amaury. Saiba mais sobre a promoção acessando o banner na home da revista.

Por Fábio Jammal Makhoul, em Blog do Rovai

Enquanto o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) fazia pose de estadis­ta e chamava a ética do PT de corrupta na capa da revista IstoÉ de 8 de fevereiro, uma pequena nota no pé da quinta e última página da seção “A Semana” passava facilmente des­percebida até mesmo para os leitores mais atentos. Embaixo de três notas  necrológicas, o pequeno texto infor­mava: “Condenados a 11 anos de pri­são pela 12ª Vara Federal do Distrito Federal o ex-presidente, do Banco do Brasil Paulo César Ximenes e seis ex­-diretores dessa instituição. Eles foram acusados de gestão temerária devido a irregularidades em empréstimos fei­tos à construtora Encol entre 1994 e 1995. Na quarta-feira 1″.

Assim como IstoÉ, a grande im­prensa não deu muita bola para o caso. Veja, por exemplo, considerou a condenação de toda uma diretoria do maior banco público do país nada importante e não dedicou uma linha a respeito do assunto. Os sete condenados formavam a diretoria colegiada do Banco do Brasil entre 1995 e 1998, com Ximenes no comando da instituição. Período que coincide com o primeiro mandato de FHC. Eles foram condenados em pri­meira instância por nove atos que caracterizam crimes de gestão temerária e de desvio de crédito ao emprestar dinheiro para a construtora Encol, que faliu em seguida e prejudicou mi­lhares de mutuários. Os acusados foram considerados responsáveis, entre outros crimes, por aceitar certificados de dívida emitidos ilegalmente pela construtora e por prorrogar sistematicamente ope­rações vencidas e não pagas.

O homem-bomba
A condenação de toda a diretoria colegiada do Banco do Brasil no pri­meiro mandato de FHC é a menor das preocupações do PSDB. O mais atemorizante é que, entre os condenados, um personagem se destaca. Trata­-se do já conhecido Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-diretor da área interna­cional do banco.

O economista ganhou notoriedade durante as privatizações promovidas por Fernando Henrique Cardoso, especialmen­te nos, casos da Companhia Vale do Rio Doce (ver matéria na página 12) e do sistema Telebrás, dois dos maiore negócios do mundo. Em 1998, no episódio conhecido como “Grampo do BNDES”, Ricardo Sérgio foi desta­que ao ser flagrado confessando como agiam ao costurar negócios para o leião das teles: “no limite da irresponssabilidade”.

Caixa das campanhas de José Serra (1990 a 1996) e de Fernando Henrique (1994 e 1998), Ricardo Sérgio está envolvido em denúncias que vão desde pequenos problemas com a Receita Federal até a suposta cobrança de uma propina de R$ 15 milhões do empresário Benjamin Steinbruch, para favorecê-lo no leilão da Vale e prejudicar os fundos de pensão dos funcionários de estatais. O empresário teria dito, à época, que estava convencido de que Ricardo Sérgio falava em nome do PSDB e decidiu pagar a propina. O assunto foi destaque nas três maiores revistas de circulação nacional na segunda semana de maio de 2002. Veja e Época afirmavam que parte da propina de R$ 15 milhões, que teria sido cobrada em 1996, foi efetivamen­te paga. As duas revistas confirmaram o pagamento com empresários e inte­grantes do conselho de administração da Vale do Rio Doce, que preferiram preservar sua identidade. Veja ainda teria confirmada a história com dois tucanos de alta plumagem, a seguir o trecho da matéria:

“Veja conversou com dois empre­sários que ouviram o relato de Stein­bruch. ‘Ele me disse que se sentia alvo de um achaque’, conta um dos em­presários. O outro, que trabalha no setor financeiro, diz algo semelhante: ‘Naquele tempo, Benjamin andava por aí feito barata tonta, sem saber se pagava ou não’, afirma. Na sema­na passada, Veja obteve depoimentos formais que confirmam a história. A particularidade desses depoimentos é que eles são dados por expoentes da política brasileira. Um deles é de Luiz Carlos Mendonça de Barros, que presidiu o BNDES durante o processo de venda da Vale, e depois assumiu o Mi­nistério das Comunicações. Acabou perdendo o emprego quando estou­rou o escândalo das fitas da privatiza­ção das teles. A outra autoridade é o ministro da Educação, Paulo Renato de Souza. Ambos são tucanos”.

A mesma Veja, sim a Veja, ainda explicou: “Ricardo Sérgio não caiu de pára-quedas no chamado ninho tuca­no. Ele foi apresentado a José Serra e a Fernando Henrique Cardoso pelo ex-ministro Clóvis Carvalho. Em 1990, José Serra candidatou-se a de­putado federal e não tinha dinheiro para fazer a campanha. Clóvis Carva­lho destacou quatro pessoas para aju­dá-lo na coleta. Um deles era Ricardo Sérgio. Em 1994, Serra se candidatou ao Senado por São Paulo, e Ricardo Sérgio voltou a ajudá-Io como coletor de fundos de campanha. A última dis­puta da qual Serra participou foi para a prefeitura de São Paulo, em 1996. Depois, o senador não mais concor­reu em nenhuma outra eleição, até a deste ano (2002). Ricardo Sérgio também foi uma das pessoas acio­nadas para arrecadar contribuições para a campanha presidencial de Fer­nando Henrique Cardoso, em 1994. O mesmo aconteceu na reeleição de FHC, em 1998. Na função de coletor de contribuições eleitorais, Ricardo Sérgio era muito bem-sucedido”.

Na semana seguinte, a reportagem explosiva de Veja era comentada pelo então professor da USP Bernardo Ku­cinski que dizia não entender o “furor ínvestigativo” da revista e questionava: “Mera reação à concorrência? Retalia­ção patrimonialista? Ou, o mais prová­vel: uma ação operada a partir de fra­tura no interior do bloco de poder”.

Já a revista IstoÉ relatou na edição da mesma semana um novo caso sus­peito envolvendo o ex-diretor do BB. Ricardo Sérgio teria encabeçado um esquema que teria trazido de volta ao Brasil, em 1992, “US$ 3 milhões sem procedência investidos nas Ilhas Cayman, paraíso fiscal do Caribe”. Ele te­ria conseguido vender no mercado in­ternacional títulos da empresa Calfat, numa transação feita por intermédio do Banespa, quando a instituição ainda pertencia ao governo de São Paulo. Com tantas suspeitas – potencial­mente explosivas pairando sobre o cai­xa tucano, a sua condenação no caso dos empréstimos da Encol feitos pelo BB pode ser apenas a ponta do iceberg.

Grampo revela armações
A nomeação de Ricardo Sérgio de Oliveira para a direção de relações internacionais do Banco do Brasil foi uma indicação de José Serra (mi­nistro do Planejamento na época), e Clóvis Carvalho (Casa Civil). Com o cargo, se transformou numa das pes­soas mais influentes na Previ (fundo de pensão dos funcionários do BB) e teve grande participação na monta­gem de consórcios que participaram com o fundo nas privatizações. O caso do Grampo no BNDES revela um pouco como se agia nesses casos. A interceptação clandestina de telefonemas trocados pelas autorida­des que geriam o processo de venda das telefônicas mostrou uma agitada movimentação do governo FHC nas 72 horas que antecederam o Leilão das Teles, ocorrido em julho de 1998. Nas fitas, o então ministro das Co­municações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, telefona para Ricardo Sérgio e revela que o Opportunity, de Daniel Dantas, quer participar do leilão da Tele Norte Leste, mas depende da conces­são de uma Fiança do Banco do Brasil: “Está tudo acertado. Mas o Opportu­nity está com um problema de fian­ça. Não dá para o Banco do Brasil dar?”, pergunta Mendonça de Barros. “Acabei de dar (R$ 874 milhões)”, responde Ricardo Sérgio e completa quase rindo: “Nós estamos no limite da nossa irresponsabilidade. São três dias de fiança para ele” …. “Na hora que der merda (se refere ao astronô­mico valor do crédito), estamos juntos desde o início.” A armação nesse caso só não deu certo porque o Opportunity já havia adquirido a Brasil Telecom (BrT) e a Telemig. Em março de 2001, o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL) disse à Justiça e ao Ministério Público que o economista chegou a cobrar comissão de mais de R$ 90 milhões para assegu­rar o resultado no Leilão das Teles.

Prestador de serviços
Errando ou acertando nas “arti­culações”, Ricardo Sérgio mantinha confiança da alta cúpula tucana. Um assessor parlamentar que está levantando dados para a CPI das pri­vatizações diz que um dos caminhos para arrecadar recursos para campa­nhas em anos anteriores passava pela formação dos grupos que disputavam os leilões das empresas então estatais. Injetava-se dinheiro dos fundos de pensão em um dos grupos e caso ele vencesse recolhia-se a tal “contribui­ção” para partidos e/ou candidatos. Como ficou claro nas matérias publi­cadas a partir do grampo do BNDES, Ricardo Sérgio era um dos arquitetos dos grupos. Mera coincidência?

Na atual crise do “Mensalão”, o nome do caixa tucano também apare­ceu. O tesoureiro era um dos elos entre Marcos Valério e o PSDB. Adivinhe de quem é o prédio em que a agência de publicidade SMPB de Valério ocupa dois andares em Belo Horizonte? Ricardo Sérgio comprou o edifício por R$ 7,5 milhões em 17 de agosto de 1999, mesma época em que Marcos Valério passou a atuar no Ban­co do Brasil pela DNA Propaganda.

Outra coincidência: o prédio pertencia a Petros, o fundo de pensão dos funcio­nários da Petrobrás. Em 1999, durante o governo FHC, a Petros vendeu o edifício à Planefin – Serviços, Assessoria, Planejamento, Administração e Parti­cipações S/C Ltda., de propriedade de Ricardo Sérgio, que procurou esconder seu nome do negócio nomeando um “laranja” para a transação, seu “sócio” Ronaldo de Souza. As CPls ainda não aprofundaram as investigações entre Marcos Valé­rio e Ricardo Sérgio e até agora não foram reveladas as circunstâncias em que o edifício passou a ser ocupado pela empresa do publicitário. Mas desde o início da crise do Mensalão, a relacão entre o PSDB e o Valerioduto ficou parente. O esquema Marcos VaLétio começou em Minas Gerais, nos anos 1990, quando o publicitário passou a finan­ciar as campanhas do PMDB, PFL e PSDB. Mas o grande trabalho do Va­lerioduto só aconteceu em 1998, na campanha para reeleição de Eduardo Azeredo, que caiu da presidênciâ na­cional do PSDB quando o esquema veio à tona. Com Marcos Valério, a campanha de Azeredo arrecadou cerca de R$ 9 milhões, sendo R$ 2 milhões a partir de “negócios” com o Tesouro Estadual de Minas e R$ 6 mi­lhões e meio com as estatais mineiras. A CPI dos Correios também apurou que Valério trocou 40 telefonemas em 2002 com o comitê de campanha do atual governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB). Mas a ligação entre Válério e Ricardo Sérgio também se dá por ou­tra frente. O economista Lúcio Bo­lonha Funaro é apontado pela CPI dos Correios como dono oculto da Guaranhuns, empresa que Marcos, Valério teriá usado para repassar R$7 milhões ao Partido Liberal (PL). A empresa teria dado um prejuízo de R$ 100 milhões aos fundos de pensão. E adivinha quem é o melhor amigo de Funaro? O jornal Estado de Minas de 26 de agosto do ano passado diz que Ricardo Sérgio é o sócio oculto da Guaranhuns, mas as investigações da CPI ainda não se aprofundaram. Desde que seu nome surgiu nos noticiários pela primeira vez, os partidos adversários do PSDB tentam le­var Ricardo Sérgio para se explicar no Congresso. Mas, até agora, o esquema tucano-pefelê conseguiu preservar homem de confiança de Serra e FHC.

O caso Encol
Apesar das peripécias de Ricardo Sérgio pelos meandros do poder, só agora a Justiça condenou o caixa tu­cano a prisão. O juiz federal Cloves Barbosa de Siqueira, da 12ª Vara do Distrito Federal, considerou que os empréstimos feitos à Encol burlaram “os normativos vigentes”. Ou seja, houve crime de “gestão temerária” com “atos de administração que coloquem em risco os negócios da insti­tuição”, assinalou o juiz. Antes mesmo de Ricardo Sérgio, assumir a direção do BB, em 1995, os problemas financeiros da construtora já eram conhecidos. Na época, a dívi­da da Encol com o sistema financeiro era estimada em aproximadamente R$ 700 milhões, sendo o BB um dós maio­res credores. Conforme denúncias da epoca, há indícios de uma série de ligações suspeitas entre os donos da em­presa e integrantes do governo FHC. Apesar da quantidade de provas de irresponsabilidade nos emprésti­mos, essa foi a primeira vez que diri­gentes do banco foram condenados pelo envolvimento com a construtora. Entre as nove irregularidades que resultaram na condenação, o juiz citou, em sua senténça a hipoteca que o BB liberou para o Hotel Ramada, da Encol, como exemplo de operação danosa para a instituição.

Segundo parecer da Justiça, no lu­gar do hetel, que valia R$ 55 milhões à, época, o Banco do Brasil recebeu R$ 17,3 milhões. “Não há justificativa plausível para se liberar uma garantia vendida por R$ 55 milhões mediante o recebimento de apenas R$ 17,3 mi­lhões, com a colocação do saldo rema­nescente (R$ 37, 7 milhões) à disposi­ção da própria devedora”, relata o juiz. Os diretores do BB ainda aceitaram certificados de dívida emitidos ilegal­mente pela construtora e renovaram sistematicamente as operações de cré­dito vencidas e não pagas. “Mesmo cientes da precária situação financeira da Encol, ampliaram os límites de crédito da citada empre­sa, ao mesmo tempo que autorizaram a liberação de garantias idôneas me­diante substituição por outras incapazes de lastrear as operações de crédito concedidas à empresa”, citou o juiz, mencionando o documento do Mi­nistério Público, autor da ação.

Reversão complicada
Embora tenham sido condenados por gestão temerária na direção do BB, a instituição decidiu utilizar seu corpo jurídico para defender os acu­sados. A assessoria de imprensa. do banco informou que a empresa vai recorrer da sentença no Tribunal Regional Federal. Antônio da Silva Machado consultor jurídico do BB, é o responsável pela defesa dos sete condenados. Se­gundo ele, os empréstimos do banco a Encol tinham por objetivo recuperar a construtora e evitar sua falência, para receber os créditos que já haviam sido dados por gestões anteriores. De acordo com sua tese, com a falência, o banco dificilmente conseguiria reaver o dinheiro, já que a lei dá preferência a pagamentos de dívidas trabalhistas e tributárias. Mas numa das muitas entrevistas que deu à imprensa, defendendo os ex-diretores do BB, Machado acabou cometendo um lapso e reconheceu que houve irregularidades por parte dos condenados. É que na base da sua argumentação, o advogado tenta descaracterizar o crime de gestão te­merária, alegando que juridicamente o termo não se aplica a atos isolados “e sim a todo um conjunto de irregu­laridades cometidas ao longo de de­terminado período de tempo”. Autor da denúncia que resultou na ação do Ministério Público e na conde­nação da Justiça, o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), diz ser comum empresas do porte do BB co­locarem a assistência jurídica à dispo­sição de ex-empregados. “Não é ilegal, mas acho que o advogado do banco não deveria defender os acusados para a imprensa”, disse o petista à Fórum. Para Berzoini, embora caibam re­cursos aos acusados, dificilmente as instâncias superiores da justiça irão reformar a sentença. “Nós fizemos a denúncia ao Ministério Público em 2000 e a promotoria conseguiu em sua ação fundamentar muito bem o pedido de condenação. As provas apresentadas foram muito claras e o juiz também embasou muito bem a sua decisão. Vai ser difícil de reverter”, comentou. O presidente do PT explicou que a decisão da Justiça foi tão responsável que absolveu o gerente Jair Bilachi e o secretário-executivo Manoel Pinto de Souza Junior. Auditoria interna feita pelo banco na época apontava um pequeno grupo de funcionários como os únicos responsáveis pelos empréstimos irregulares, entre eles ós dois absolvidos. “Na época, a direção do BB tentou não só se eximir da cul­pa, mas transferir a responsabilidade para funcionários subalternos.” Além de Ricardo Sérgio e do ex­-presidente Paulo César Ximenes, fo­ram condenados Edson Ferreira, João Batista de Camargo, Hugo Dantas, Ricardo Conceição e Carlos Gilberto Caetano. Dos sete, somente Ricardo Conceição continua empregado no banco (atualmente ocupa a vice-pre­sidência de Agronegócios).

Isenta imprensa
A notícia da condenação da ex-diretoria colegiada do BB circulou somente no dia 1º de fevereiro, mas a decisão da Justiça data do dia 2 de dezembro de 2005. A imprensa comercial levou dois meses para descobrir a condenação e nenhum jornal ou revista de grande circulação deu destaque para o fato. Dois dos maiores jornais do país, Estado e Folha de S. Paulo, deram a notícia sem destaque na capa e os seus cadernos de economia, longe e descolada da parte po­lítica, onde se publica os escândalos. A Folha chegou ao cúmulo de utilizar como chapéu (pré-título) para desta­car a notícia a palavra “imóveis”. No caso do Grampo no BNDES há uma referência à docilidade da mí­dia comercial com o esquema tucano-pefelê. Numa das conversas gravadas, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem o seguinte diálogo com ministro Mendonça de Barros: Minis­tro: “A imprensa está muito favorável, com editoriais”. FHC: “Está demais, né? Estão exagerando, até”. E ri.

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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Presos três suspeitos de ataque à aldeia indígena em Mato Grosso do Sul

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Alex Rodrigues*, em Agência Brasil

A Polícia Federal (PF) prendeu nesta quinta-feira (1º) três suspeitos de atacar o acampamento indígena Tekoha Guaiviry, localizado entre as cidades de Amambaí e Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul. Além de participação no ataque ao acampamento dos Guarani-Kaiowá, os três homens detidos nesta manhã são suspeitos de envolvimento no desaparecimento do cacique Nísio Gomes.

Os três suspeitos prestaram depoimento na delegacia da PF em Ponta Porã, mas seus nomes e nacionalidades não foram divulgados. Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), há suspeitas de que paraguaios tenham participado do ataque ao acampamento, no último dia 18. O acampamento fica próximo à fronteira com o Paraguai.

Apesar das prisões, o cacique ainda não foi localizado. De acordo com índios que se encontravam no acampamento no momento do ataque, pistoleiros encapuzados atiraram em Gomes e levaram seu corpo ensanguentado, além de três jovens. A PF diz que não encontrou no local munição de armas letais, mas apenas cartuchos de armas de borracha. Para a PF, Nísio está desaparecido.

Quanto aos três jovens supostamente raptados, não foram encontrados, até o momento, indícios deles, nem foi registrada queixa. Ainda assim, a denúncia não foi descartada.

De acordo com a Fundação Nacional do Índio (Funai), os Guarani-Kaiowá são, atualmente, o mais numeroso povo indígena do país, com mais de 45 mil pessoas. A maioria delas vive em situação de miséria, ocupando 42 mil hectares (o equivalente a 420 milhões de metros quadrados, ou 42 mil campos de futebol). Segundo o relatório sobre a violência contra os povos indígenas produzido pelo Cimi, 250 indígenas foram mortos em Mato Grosso do Sul nos últimos oito anos.

Segundo líderes indígenas da região, mesmo diante da repercussão do desaparecimento do cacique, pistoleiros continuam ameaçando os índios, pressionando-os para que deixem os acampamentos. Na última segunda-feira (28), índios do Acampamento Pyelito Kue, próximo ao município de Iguatemi, denunciaram que dois homens em uma moto invadiram o local atirando e prometeram voltar.

Os Guarani-Kaiowá cobram rigor nas investigações a cargo da PF e querem a prisão dos responsáveis e dos envolvidos no ataque ao acampamento. Ontem (30), eles realizaram a Marcha contra o Genocídio e pela Paz, ato que, segundo os organizadores, reuniu 500 indígenas e simpatizantes da causa. O grupo caminhou cerca de sete quilômetros pela rodovia MS-86, que liga Ponta Porã a Amambai. O ato foi encerrado no acampamento Tekoha Guaiviry.

No último fim de semana, os índios que participaram da Aty Guasu (espécie de assembleia com caráter de movimento político do povo Guarani) divulgaram um manifesto em que pedem intervenção federal no estado. No documento, eles afirmam que o governo sul-mato-grossense é incapaz de garantir a segurança dos indígenas.

Segundo o coordenador regional do Cimi no estado, Flávio Vicente Machado, o grupo teme que, com o passar dos dias, o assunto caia no esquecimento e as buscas aos desaparecidos sejam encerradas. “O clima continua muito tenso na região. Os índios continuam sendo intimidados e temiam que, mesmo com toda a repercussão, o caso simplesmente fosse deixado de lado em função dos interesses econômicos e da correlação de forças políticas no estado”, disse Flávio à Agência Brasil.



* Alex Rodrigues é repórter da Agência Brasil

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terça-feira, 29 de novembro de 2011

Com descaso do governo e falta de verbas para subsistência, Casa do Índio agoniza

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Por Rui Zilnet

Enquanto Eunice Cariry relata os acontecimentos ocorridos
na Casa do Índio, assistidos acompanham com liberdade
Dia desses, em visita à Casa do Índio do Rio de Janeiro, fundada em 1968 pela sertanista Eunice Cariry, para acolher índios portadores de necessidades especiais, fiquei encantado com o que presenciei. A casa, localizada em uma sossegada rua da Ilha do Governador, abriga cerca de 32 índios com problemas físicos, mentais e doenças crônicas, que convivem tranquilamente num prédio com características que lembram uma aldeia indígena, porém, com estrutura adaptada ao meio urbano, proporcionando-lhes o conforto, a higiene e o bem estar necessários à boa recuperação.

Durante o tempo que permaneci na casa, aproximadamente oito horas, os índios assistidos demonstraram felicidade espontânea e aparência saudável, sem apresentar qualquer sinal característico de sofrimento ou privação de qualquer ordem. As instalações são limpas e bem cuidadas.

Segundo Eunice Cariry, o objetivo principal da Casa do Índio é receber índios oriundos das Administrações Regionais da FUNAI, instaladas nos estados da federação, sempre que esgotem todos os recursos para tratamento nos locais de origem. Os assistidos são atendidos na rede hospitalar pública (SUS) e por facultativos, que voluntariamente prestam assistência especifica a cada caso, desde a sua fundação, há 43 anos.

Contudo, desde os anos de 1990 a Casa do Índio passa por um processo de desestruturação promovido pela segmentação do atendimento aos indígenas, que retirou da Funai atribuições que lhes eram da competência. Como exemplo, a Educação dos índios passando para o Ministério da Educação (MEC) e a Saúde, respectivamente, para o Ministério da Saúde.

Cândido Ribeiro é um dos funcionários da Casa do Índio
Eunice destaca que desde a criação da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), em 1999, a Casa do Índio passou a sofrer um processo de cortes nas verbas para manutenção, alimentação e medicamentos dos atendidos, culminando, recentemente, com o cancelamento de um convênio que pagava todos os seus funcionários. Na próxima quarta-feira (30) completam 30 dias que foram rescindidos os contratos de cerca de 14 cuidadores, que mesmo assim permanecem em seus postos, sabendo que poderão ficar sem receber os salários.

A situação da Casa do Índio é extremamente delicada. O estado é de alerta máximo. Com o esfacelamento da Funai, as ações de terrorismo que a casa vem sofrendo, e uma visível disputa de poder por pessoas e instituições sem qualquer comprometimento com a causa indígena, a não ser o oportunismo, os assistidos estão sujeitos a ficarem abandonados à própria sorte, o que ainda não ocorreu devido à dedicação e seriedade que Eunice Cariry dirige a instituição.

O que entristece nesta situação é que enquanto uma organização criada com propósitos essencialmente humanistas, cumprindo verdadeiramente os objetivos a que se propôs é esfacelada pelo descaso das instituições governamentais, elementos aventureiros, pseudoprotetores dos índios, apropriam-se facilmente de recursos públicos, explorando a plasticidade cênica oferecida pelos indígenas, para mostrar belo e ocultar a realidade cruel.

Espera-se que alguém do governo demonstre bom senso e resolva rapidamente esta situação de descaso com a Casa do Índio, reconhecendo que o trabalho conduzido por Eunice Cariry é necessário e eficaz. O que não se pode aceitar é que os índios que ali estão fiquem jogados à própria sorte e os funcionários permaneçam na incerteza de seus futuros. A solução carece ser adotada com urgência máxima.


Texto e fotos de Rui Zilnet 
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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Jornalismo grotesco e de baixo nível

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Por Priscila Fonseca, em Comunique-se

O jornalista Mino Carta, diretor de redação da Carta Capital, critica o jornalismo atual. “Os jornais brasileiros são muitos feios e mal escritos, sem comparação com as mídias estrangeiras. O jornalismo virou algo grotesco e de baixo nível”, disse Mino, durante debate no Medion 2011, 5º Seminário de Jornalismo Online, realizado nesta quinta-feira (24) em São Paulo. A discussão também contou com o editor executivo da Revista Veja, Fábio Altman. O debate foi mediado pelo psicanalista Jorge Forbes, com o tema, Jornalismo no Divã.

Altman concordou com Mino. “A variedade e o volume de informações é tão grande e é muito mais rico que anos atrás, no entanto, se você não souber absorver o que é realmente de qualidade, fica só lixo. O número de grandes reportagens antes era muito maior e bem feito”.

Mino afirmou que os jovens jornalistas não conhecem o Brasil. “Você precisa ter um nível de conhecimento sobre história do Brasil. Eu fico pasmo em jovens jornalistas não saberem nada sobre isso. E isso me assusta muito, por que temos condições de melhorar”, disse Mino.

Altman completou. “Muitas pessoas nessas condições compram Iphone e Tablets, mas nem se quer leram um livro”.

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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Governo promete reforçar ações para conter conflitos entre indígenas e fazendeiros no Mato Grosso do Sul

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Por Luana Lourenço, em Agência Brasil

A ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, disse hoje (24) que o governo vai reforçar as ações na região de Dourados, em Mato Grosso do Sul, palco de conflitos entre indígenas e produtores rurais. A tensão na região aumentou na última semana depois do ataque de pistoleiros ao Acampamento Tekoha Guaiviry, no município de Amambai.

De acordo com os indígenas, o cacique Nísio Gomes foi morto e três moradores do acampamento foram sequestrados. O corpo do cacique desapareceu e ainda não há pistas sobre os desaparecimentos. A Polícia Federal e o Ministério Público Federal abriram inquérito para investigar o caso.

Na próxima semana, segundo Maria do Rosário, o governo vai reunir o Comitê Gestor de Ações Indígenas Integradas para Dourados em um encontro em Mato Grosso do Sul. O grupo deverá anunciar um pacote de políticas públicas para os cerca de 44 mil índios da região.

“O comitê, que é composto por vários ministérios, estará em reunião em Mato Grosso do Sul exatamente para tratar de questões relacionadas ao atendimento em saúde, de segurança, e um conjunto de politicas para as comunidades indígenas”, adiantou a ministra.

“Os conflitos agrários na região têm desencadeado situações de muita violência, com mortes que poderiam ter sido evitadas. O desafio é asseguramos segurança e direitos humanos às comunidades indígenas e tratar o conflito agrário com definições claras do Estado brasileiro”, acrescentou.

Maria do Rosário disse ainda que é preciso cobrar das autoridades a investigação sobre os mandantes e executores de crimes contra indígenas, comuns na região.

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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Vinícius Cordeiro é o novo presidente do América

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No exercício interino da presidência desde o afastamento do seu antecessor, o Advogado Vinícius Cordeiro foi eleito na noite de ontem (22) presidente do América Football Club, do Rio de Janeiro, para o triênio 2012/2014. O resultado foi de 85 votos a favor, 10 em branco e 6 nulos, para a chapa encabeçada por Cordeiro, que não teve concorrente.

A votação aconteceu no Teatro Max Nunes, na sede da Rua Campos Sales, na Tijuca. Na ocasião, Vinícius Cordeiro destacou que quando assumiu a presidência interina, foi em meio a um processo de efervescência política no clube, mas, agora, não só a situação do clube está melhor, como também a financeira, social e desportiva. “Trabalhamos muito nos últimos seis meses e hoje temos uma instituição se encaminhando para a recuperação plena”, concluiu.


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

PEC do diploma de jornalista volta à pauta do Senado


Agência Senado

Voltou à pauta do Plenário do Senado a Proposta de Emenda à Constituição (PEC)33/2009 de autoria do senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) que trata da exigência de curso superior de Comunicação Social para o exercício da profissão de jornalista. Para que a matéria seja apreciada, no entanto, é preciso que sejam votadas duas medidas provisórias que trancam a pauta, ou que seja convocada sessão extraordinária.

De acordo com a PEC, nos termos do substitutivo aprovado pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), a profissão de jornalista é privativa do portador de diploma do curso superior de Comunicação Social, com habilitação em jornalismo, expedido por instituição oficial de ensino, cujo exercício será definido em lei.

A PEC é uma resposta à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de junho de 2009, que revogou a exigência do diploma para jornalistas. Os ministros consideraram que o Decreto-lei 972 de 1969, que exige o documento, é incompatível com a Constituição, que garante a liberdade de expressão e de comunicação.

A exigência do diploma, de acordo com esse ponto de vista, um resquício da ditadura militar, afastaria dos meios de comunicação intelectuais, políticos e artistas que se opunham ao regime.

O relator do texto na CCJ, senador Inácio Arruda (PCdoB-CE), objetou que, ao contrário de inibir a liberdade de expressão, a luta pela regulamentação da profissão de jornalista esteve historicamente ligada à defesa da democracia no Brasil.

"O que reprimiu liberdades no período ditatorial não foi a exigência de diploma, mas a censura, o autoritarismo, a perseguição política, o controle ideológico dos meios de comunicação pela intimidação e força do regime militar. A resistência democrática esteve encabeçada por inúmeros jornalistas, e não foi a exigência do diploma que impediu maior ou menor liberdade de expressão", disse o relator.

De acordo com Inácio Arruda, PEC visa resgatar a dignidade profissional dos jornalistas, fixando na própria Constituição que a profissão de jornalista é privativa do portador de diploma de curso superior em jornalismo, sem criar restrições à livre manifestação do pensamento e das informações, garantindo a democracia e a liberdade, pilares do Estado de Direito.

Diploma facultativo
O substitutivo estabelece ainda que a exigência do diploma não é obrigatória ao colaborador, assim entendido aquele que, sem relação de emprego, produz trabalho de natureza técnica, científica ou cultural, relacionado com a sua especialização, para ser divulgado com o nome e qualificação do autor.

A exigência do diploma também não é obrigatória para aquele que, à data da promulgação da emenda, comprove o efetivo exercício da profissão de jornalista, bem com aos jornalistas provisionados que já tenham obtido registro profissional regular perante o órgão competente.

Esforço concentrado
As entidades representativas da categoria dos jornalistas convocaram seus membros para pressionarem os senadores para que a PEC 33/2009 seja votada ainda nesta semana. Em abaixo-assinado, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) diz que aposta na "independência e na vocação democrática do parlamento para reverter uma decisão nitidamente obscurantista do STF, que tem como único objetivo atingir a profissão de jornalista e a sua capacidade de expressar a liberdade de expressão prevista na Constituição".

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Autônomos assinam matérias da Folha após demissão de 40 jornalistas

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Na última semana, 40 jornalistas foram demitidos da Folha de São Paulo, representando enxugamento de 10% da redação do jornal. Entre os demitidos, redatores, repórteres e editores com mais de 20 anos de empresa. As demissões atingiram profissionais dos cadernos de “Classificados”, “Poder” e “Cotidiano”.

O caderno ‘Folhateen’ acabou, passando a ser uma página da “Folha Ilustrada”, e a sucursal da Agência Folha em Cuiabá foi fechada.

Para suprir a lacuna deixada pelas demissões, que atingiram principalmente as editorias de “Cotidiano” e “Ilustrada”, desde segunda-feira (14) grande volume de matérias da Folha estão sendo assinadas por freelancers.

De acordo com informações contidas no Portal Comunique-se, 23 matérias da ‘Folha.com’ foram assinadas por autores autônomos, sendo uma do dia 14 e outra do dia 15; 11 textos no dia 16 e dez textos nesta quinta-feira (17). “Entre o dia 1º e o dia 13 de novembro, não havia nenhuma matéria assinada por colaboradores publicada no site.”

As demissões não atingiram Andreza Matais, José Ernesto Credendio e Catia Seabra, que receberam o “Prêmio Esso de Jornalismo 2011” pela produção da reportagem “O patrimônio e as consultorias que derrubaram Palloci”, publicada pela Folha.



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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Qual será o próximo alvo da Veja?

Por Rui Zilnet


Dia desses foi o ministro dos Esportes. Agora, a carta da vez, marcada pela Veja, é o ministro Carlos Luppi, do Trabalho. Enquanto não vê-lo derrubado não sossegará. É o tudo ou nada panfletário já característico da revista, com investimento pesado na desconstrução moral de pessoas públicas.

Sem entrar no mérito da culpabilidade dos atores envolvidos, a atuação do conhecido veículo da Editora Abril, pela sua forma de atuação, é de perseguição explícita ao atual governo brasileiro. É comportamento político-partidário de uma empresa que não está nem um pouco preocupada com as questões éticas que envolvem o trabalho e a produção jornalística. Isto é muito claro.

Contudo, resta saber por que esta revista não agia da mesma forma no período em que a presidência da República era exercida pelo senhor Fernando Henrique Cardoso e pelos que o antecederam? Por que, também, a Veja não divulga os fatos escabrosos que envolvem o atual governo do Estado de São Paulo?

Após Carlos Lupi, qual será o próximo alvo?

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Ocupação da Rocinha vira "espetáculo midiático"

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Por Luciana Lima, em Agência Brasil

A divulgação massiva das ocupações de comunidades pobres do Rio de Janeiro por forças da segurança púbica remonta, segundo especialistas, à República Velha, quando a hipervalorização dos presos buscava alcançar o reconhecimento da sociedade para o trabalho policial. Segundo Michel Misse, professor de sociologia e antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diretor do Núcleo de Estudos em Cidadania, Conflito e Violência Urbana (Necvu) da UFRJ, a pirotecnia fez lembrar artigos da década de 1950 que criticavam a “aliança” entre imprensa e polícia para supervalorizar as prisões.

“O interessante é que são artigos críticos de Silvio Terra, que hoje dá nome à Academia de Polícia do Rio de Janeiro. Desde àquela época já se identificava a tendência de tornar muito mais importante, inteligente e perigoso aqueles que eram capturados pela polícia”, diz Misse. “Era uma forma de hipervalorizar o trabalho [policial]. Desde aquela época, já existia essa aliança entre a polícia e os veículos de comunicação, com suas editorias de polícia.”

A anunciada ocupação das favelas da Rocinha e do Vidigal no Rio de Janeiro domina o noticiário há uma semana. Mesmo antes da madrugada de domingo (13), quando as forças policiais subiram o morro, a prisão dos policiais que tentaram escoltar traficantes em fuga e a captura do traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem, tiveram ampla cobertura da imprensa nacional. O assunto também ganhou destaque internacional, mostrando que o Rio investe para reforçar a segurança para receber dois megaeventos esportivos mundiais: a Copa do Mundo em 2014 e das Olimpíadas de 2016.

Isso já havia ocorrido no primeiros semestre do ano, quando as 13 favelas que formam o Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, foram ocupadas por forças da segurança pública. “Essa aliança explica, em parte, a ênfase na divulgação da prisão de Nem, que era um traficante de varejo”, assinala o professor. “O Nem já estava negociando com a Polícia Civil sua rendição. O advogado mantinha contatos com a polícia quando ele resolveu fugir.”

De acordo com Misse, o poder econômico do tráfico no Rio está em declínio e já deu vários sinais. “Um deles foi o acordo feito por facções do Rio com facção de São Paulo. Foi a partir desse momento que o crackcomeçou a entrar no Rio, coisa que antes os traficantes cariocas não permitiam.” O avanço das milícias (organizações formadas a partir da associação entre criminosos e policiais) também demonstra esse enfraquecimento, acrescentou o diretor do Núcleo de Estudos em Cidadania, Conflito e Violência Urbana da UFRJ.

Para Marcelo Burgos, professor e coordenador da área de sociologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, a forte ação midiática está no centro da política de implantação das unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Segundo ele, o “efeito UPP” tenta vender o conceito de uma cidade “pacificada”. “A UPP é uma política que se diferencia de outras até pelas ações de caráter midiático. O que temos no Rio não é só a UPP, mas também o “efeito UPP.”

Embora ressalte que entende a intenção do governo do Rio em apresentar Nem como um “troféu”, o professor da PUC do Rio vê exagero na cobertura da imprensa. “O interesse da mídia e a repercussão da prisão de um traficante do porte do Nem não é compreensível. Apesar de não ser um pé rapado, de ter domínio territorial [sobre a Favela da Rocinha], de controlar um volume razoável de dinheiro e de mercadoria [droga], não se pode considerá-lo um chefão do tráfico. É claro que houve uma midiatização da prisão dele.”

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terça-feira, 15 de novembro de 2011

Fotografia: Água-Conservação e Cultura

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A água é alma de toda e qualquer paisagem. É o espelho da humanidade. Ela viu a Terra antes da terra. Viu o engatinhar das civilizações. É a mesma desde que o mundo é mundo, renovando-se no ciclo intenso e natural de fazer-se vapor, nuvem, chuva, rio, para depois e sem cessar começar tudo de novo.

A água conhece a história do planeta. E parte da imensidão da história da água está esmiuçada no livro Água-Conservação e Cultura, do fotógrafo Adriano Gambarini e da jornalista Laís Duarte, que será lançado pela Editora Cultura Sub, na próxima quinta-feira (17), das 17 às 20 horas, na Livraria Travessa, Rua 7 de Setembro 54, Centro, Rio de Janeiro. Em duas centenas de páginas tem-se um oceano de informações.

Fotógrafo Adriano Gambarini 
"O convite veio num encontro informal, regado a um pequeno copo de água com gás e uma xícara contendo um líquido escuro, onde uma água cuidadosamente quente acentuava o paladar do café. Meu atraso ao encontro se deu por conta de uma chuva torrencial que complicou o trânsito paulistano. Gotas despretensiosas escorriam pela janela do vidro enquanto o assunto era aprofundado em ideias, imagens e conceitos.

 'Água' era o tema, em toda sua magnitude e subjetividade. Enquanto conversávamos sobre como apresentar informações e imagens de algo tão imaterial e ao mesmo tão essencial para qualquer existência vivente na Terra, milhares de fotografias corriam na minha memória. Ao mesmo tempo em que me perdia na ansiedade de selecionar na lembrança as melhores fotos, num arquivo de mais de 100 mil que acumulei desde 1992, percebia que quase a totalidade deste arquivo tinha alguma relação direta com a água.

Foi então que uma deliciosa percepção me envolveu: ao produzir um livro sobre Água, estaria não apenas sendo cúmplice de gelo, chuva, rios e corredeiras. Estaria produzindo um livro sobre a vida! 

Afinal, o que é a vida sem a água, o que é a água sem sua misteriosa capacidade de se transmutar em diversas formas, e se tornar novamente vida? Não são, nem podem, ser dissociadas. Assim, me sinto honrado em ser parte deste livro, e nada mais nobre do que compartilhar imagens sobre este bem maior, sobre a vida em sua forma mais fluida..." (Adriano Gambarini)

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O terrorismo da mídia e o leitor de boa fé


Por Gilson Caroni Filho*, em Correio do Brasil

O reino dos céus, de acordo com a tradição cristã, será dos homens de boa fé. A eles já pertencem, na sua íntegra, os conteúdos noticiosos do dispositivo midiático nativo. No momento em que a Comissão Européia prevê um forte freio na atividade econômica em 2012 e não descarta a hipótese de uma longa e profunda recessão, editoriais e os conhecidos representantes do jornalismo de mercado pregam como “medidas de cautela contra o contágio” a mesma agenda que quase nos levou ao colapso nos oito anos do consórcio demotucano.

Fingindo ignorar que se rompeu uma coisa que já estava rompida, homens e mulheres de “boa fé,” de prestigiosas redações, voltam a aplicar a estratégia do terrorismo econômico, na expectativa de gerar uma profecia que se auto-cumpre. Enquanto o Banco Central, acertadamente, revê medidas de restrição ao crédito, depois de ter iniciado a redução das taxas de juro em agosto, os oráculos da grande imprensa sonham em ver reinstalada a política fundamentalista que, de 1994 a 2002, implementou radical mecanismo de decadência auto-sustentada, marcada por crescentes dívidas e desemprego, e anemia da atividade econômica.

O Brasil ideal seria aquele com juros elevados, maior dificuldade de financiamento, menor mercado para exportações e a volta a negociações duras com bancos e organismos multilaterais. A nostalgia cega qualquer possibilidade de análise séria. Se a liberdade de imprensa é tanto mais ampla quanto maior for a responsabilidade ética dos que a fazem diariamente, podemos afirmar, ancorados em um razoável número de citações jornalísticas, que só a regulamentação da mídia pode salvar a esfera pública por ela ameaçada.

No capítulo das mentiras complexas que se arrastam há décadas, há que se arremeter com energia demolidora contra o sequestro da moral pública pelos critérios que definem a lógica do mercado. Está em curso uma ação que não tem outro objetivo senão o do esvaziamento da essência da política.

Não há mais como transigir , em nome da diversidade de opiniões, com a velha ortodoxia assimilada pelos jornalões, portais e emissoras de televisão como “exemplo de racionalidade econômica”. O receituário se repete como mantra: liberalização do comércio; ênfase no setor privado como fonte de crescimento, incluindo a privatização de empresas estatais; redução geral de todas as formas de intervenção governamental no mercado de capitais e no câmbio; precarização dos direitos trabalhistas e sucateamento do Estado. Já aprendemos demais com a tragédia para vê-la rediviva como farsa.

Sabemos que a desregulamentação dos mercados financeiros resultou numa explosão da dívida privada, numa especulação nunca vista anteriormente e abusos sórdidos do capital financeiro. O fundamento religioso de mercado está na base do estancamento da economia global e da crise que afeta a zona do Euro. Por que reeditá-lo por aqui? São inocentes os consultores e jornalistas de plantão? Não.

Eles sabem que a repercussão de alguns destes problemas vão bem além da esfera econômica. A capacidade de sobrevivência de governos democráticos como os do Brasil, Argentina, Uruguai, entre tantos outros, frente a contínuas reduções do nível de vida, seria discutível. Das redações o mercado articula o golpe. São insanas as corporações midiáticas? Não, são ávidas de poder, riquezas e inimigas juradas da democracia. O desprezo com que se referem às instituições representativas revela o autoritarismo que embasa sua estrutura discursiva. É preciso dar um basta aos que se inclinam, siderados, a qualquer aventura antidemocrática. A “mão invisível” se move implacável em edições diárias.


* Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Correio do Brasil e do Jornal do Brasil.

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