“A "Frente Paraguaia" mostra os dentes”
Por Saul Leblon, em Carta
Maior
Bastou um golpe de Estado
para catalisar a orfandade conservadora, que amargava indócil ostracismo no
ambiente democrático e progressista que predomina no Brasil e na América do
Sul. Veio do sofrido Paraguai - onde 2,5% da população detém 80% das terras - a
senha para replicar cepas e esporões remanescentes de ditaduras e negócios
contrariados ao longo desse processo.
O 'golpe democrático' contra
Fernando Lugo aconteceu numa sexta-feira (22-06); rito expresso, cumprido em 33
horas. As bactérias conservadoras se alvoroçaram; mas ainda aguardariam o fim
de semana para medir a espaço de adesão. Avaliado o risco, começaram a proliferar-se.
A frente paraguaia pró-golpe manifestar-se-ia, primeiro, no Congresso.
Expoentes tucanos e
emissários do agronegócio brasileiro, que anexou extensões escandalosas de
terras do país vizinho em prejuízo dos camponeses locais, desfraldariam o
lobby. Queriam o 'reconhecimento do novo governo amigável' por parte da
Presidenta Dilma. Rechaçados, seria a vez da cavalaria midiática colocar-se a
campo. A Folha, em editorial no dia 26, sugestivamente intitulado 'Paraguai
soberano' esbravejava antecipadamente contra a reunião do Mercosul que
ocorreria em Mendoza, três dias depois, e recomendava, ou melhor, ordenava: 'o
melhor que o Itamaraty tem a fazer é calar-se e respeitar a soberania do
vizinho'.
Como os presidentes do
Brasil, Argentina e Uruguai não leram o editorial e, ademais de suspenderem o
Paraguai golpista, incorporaram a Venezuela progressista ao bloco, as cepas e
esporões passaram a reproduzir-se com furor lacerdista. Colunistas prestativos
lixaram o verniz liberal e espanaram o pó de uma biografia de bons serviços
prestados à ditadura brasileira, como editores de recados semanais nas revistas
de sempre.
Aqui e ali espumaram sua
essência intacta contra o que classificariam como sendo 'uma truculenta
intervenção nos assuntos internos do Paraguai'.
Nesta 3ª feira, coube ao
'Estadão' editorializar o desejo implícito na esponjosa reação em cadeia de
valores liberais que costumeiramente unem o cofre agrário ao bolso da
subserviência geopolítica. O jornalão que patrocinou o golpe de 64, e esperneou
quando foi excluído do butim, deixou de lado a liturgia do espaço editorial e
aconselhou aos golpistas paraguaios 'mandar às favas essa união aduaneira
fracassada e buscar negociações relevantes para seu país'. Leia-se, buscar o
regaço largo dos EUA, implodindo uma união regional que nem a crise conseguiu
arranhar --e que corre o risco de se fortalecer se o colapso financeiro dos
ricos for exorcizado pela retomada do ativismo estatal na região.
A frente paraguaia, portanto,
pôs-se a campo, tem objetivos claros e agora explícitos: apoiar o golpe;
através dele, criar um contencioso capaz implodir a espiral soberana e
progressista em curso na América Latina. Leia oporrtuna a entrevista do
assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia sobre o
assunto, em Carta Maior.
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