Rui Zilnet*
Após 12 dias afastada dos seus lugares tradicionais de concentração, população de rua volta ao seu habitat natural na selva de pedras |
Entre os dias 13 e 24 deste mês, durante a realização da Rio+20 o que mais chamou a
atenção no Rio de Janeiro foi o aparato de segurança mostrado ao mundo e a
ausência dos miseráveis e craqueiros nos logradouros públicos de grande
circulação e lugares de influência direta do evento.
Durante
este período tive uma curiosidade muito grande em saber qual o destino da
população de rua com a qual estamos acostumados a conviver diariamente. Sentia
um desconforto por não conseguir ver ou ter notícias de pessoas que não temos
intimidade, mas que cruzamos todos os dias em determinados lugares da cidade e
que passam a fazer parte de nossas vidas.
O intenso contingente de forças de segurança pública mostrados aos cariocas e visitantes durante a realização da Rio+20 não amanheceu nas ruas da Cidade Maravilhosa nesta segunda-feira |
Nesta
segunda-feira, como já era esperado, a cidade amanheceu sem o policiamento
apresentado pelo Estado para a garantia da segurança da Rio+20. Aos poucos,
durante o longo do dia os moradores das ruas foram chegando, o que para mim foi
um alívio. Não sei se todos retornaram aos seus locais de permanência diária,
mas uma grande maioria está na rua. Prefiro vê-los todos os dias, em locais
onde são assistidos pela solidariedade de pessoas sensíveis aos seus problemas do que sumidos
repentinamente, sem saber seus destinos.
Então, para
satisfazer a minha curiosidade, no fim da tarde fui a um dos pontos mais
tradicionais de reunião dessas pessoas, no Largo da Lapa. Ao chegar lá,
respirei mais aliviado. Pois, encontrei na fila que todas as tardes se forma
naquele local, onde recebem uma senha, distribuída por um grupo de freiras,
para a sopa vespertina que é servida em uma casa localizada na Travessa do
Mosqueira.
Ao
aproximar-me de alguns integrantes do grupo, buscando saber para onde foram
levados e quem os levou, a resposta veio prontamente, com muitas reclamações.
Foram levados para pelos agentes municipais da Ordem Pública e da Assistência
Social municipal ao Abrigo Municipal de Antares, localizado em Santa Cruz, na
Zona Oeste da capital fluminense, onde ficaram detidos até o início desta
segunda-feira (25).
Foi uma
limpeza sumária das ruas centrais e de todos os lugares de influência do evento
internacional, para transmitir aos visitantes e participantes da Rio+20 a falsa
sensação de que o Rio de Janeiro é uma cidade sem miséria, sem violência. O
abrigo de Antares, localizado onde funcionava uma unidade de formação
profissional do Sesi/Senai, não passa de um depósito de seres humanos que vivem
sob o manto do descaso e omissão do poder público com a anuência de uma
sociedade injusta e mesquinha que só olha para o seu próprio umbigo.
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Até quando iremos conviver com esta situação? Onde estão os responsáveis em promover o bem estar social prometido na Constituição Federal do Brasil?
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Até quando iremos conviver com esta situação? Onde estão os responsáveis em promover o bem estar social prometido na Constituição Federal do Brasil?
Texto e fotos: Rui Zilnet
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