terça-feira, 26 de junho de 2012

Polícia some e população de rua e craqueiros reaparecem no centro do Rio


Rui Zilnet*

Após 12 dias afastada dos seus lugares tradicionais de concentração,
população de rua volta ao seu habitat natural na selva de pedras
Entre os dias 13 e 24 deste mês, durante a realização da Rio+20 o que mais chamou a atenção no Rio de Janeiro foi o aparato de segurança mostrado ao mundo e a ausência dos miseráveis e craqueiros nos logradouros públicos de grande circulação e lugares de influência direta do evento.

Durante este período tive uma curiosidade muito grande em saber qual o destino da população de rua com a qual estamos acostumados a conviver diariamente. Sentia um desconforto por não conseguir ver ou ter notícias de pessoas que não temos intimidade, mas que cruzamos todos os dias em determinados lugares da cidade e que passam a fazer parte de nossas vidas.

O intenso contingente de forças de segurança pública mostrados aos
cariocas e visitantes durante a realização da Rio+20 não amanheceu
nas ruas da Cidade Maravilhosa nesta segunda-feira
Nesta segunda-feira, como já era esperado, a cidade amanheceu sem o policiamento apresentado pelo Estado para a garantia da segurança da Rio+20. Aos poucos, durante o longo do dia os moradores das ruas foram chegando, o que para mim foi um alívio. Não sei se todos retornaram aos seus locais de permanência diária, mas uma grande maioria está na rua. Prefiro vê-los todos os dias, em locais onde são assistidos pela solidariedade de pessoas sensíveis aos seus problemas do que sumidos repentinamente, sem saber seus destinos.

Então, para satisfazer a minha curiosidade, no fim da tarde fui a um dos pontos mais tradicionais de reunião dessas pessoas, no Largo da Lapa. Ao chegar lá, respirei mais aliviado. Pois, encontrei na fila que todas as tardes se forma naquele local, onde recebem uma senha, distribuída por um grupo de freiras, para a sopa vespertina que é servida em uma casa localizada na Travessa do Mosqueira.

Ao aproximar-me de alguns integrantes do grupo, buscando saber para onde foram levados e quem os levou, a resposta veio prontamente, com muitas reclamações. Foram levados para pelos agentes municipais da Ordem Pública e da Assistência Social municipal ao Abrigo Municipal de Antares, localizado em Santa Cruz, na Zona Oeste da capital fluminense, onde ficaram detidos até o início desta segunda-feira (25).

Foi uma limpeza sumária das ruas centrais e de todos os lugares de influência do evento internacional, para transmitir aos visitantes e participantes da Rio+20 a falsa sensação de que o Rio de Janeiro é uma cidade sem miséria, sem violência. O abrigo de Antares, localizado onde funcionava uma unidade de formação profissional do Sesi/Senai, não passa de um depósito de seres humanos que vivem sob o manto do descaso e omissão do poder público com a anuência de uma sociedade injusta e mesquinha que só olha para o seu próprio umbigo.
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Até quando iremos conviver com esta situação? Onde estão os responsáveis em promover o bem estar social prometido na Constituição Federal do Brasil?


Texto e fotos: Rui Zilnet

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quinta-feira, 21 de junho de 2012

Rememorando Bauru

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Por Rui Zilnet

No início deste mês de junho tive a oportunidade e felicidade de poder retornar a Bauru, cidade localizada na Região Centro-Oeste do Estado de São Paulo, conhecida não somente pelo famoso sanduíche que leva o seu nome, mas também por sediar um dos principais troncos rodoferroviários do país por muitas décadas, e que me acolheu entre os anos de 1990 e 1993.

Pórtico da gare abandonada da Estação Noroeste do Brasil/Bauru/SP
Nesta viagem, permaneci por oito dias revendo uma Bauru bonita, bem urbanizada, mas com uma grande chaga, provocada pelo estado de abandono da ferrovia, que, durante décadas, representou o progresso e desenvolvimento da região. Até a década de 1990, trens de passageiros e cargas com destino a diversas localidades brasileiras produziam intenso movimento na Estação Noroeste do Brasil.

Cheguei à cidade, pela primeira vez, no início da década de 1970, por um trem do ramal de Botucatu, que, se não me falha a memória, era da Ituana ou Sorocabana. Mais tarde, viajei muitas vezes nos confortáveis trens da Companhia Paulista, que partiam à noite da Estação da Luz [depois da Barra Funda], em São Paulo, e chegavam a Bauru no início da manhã.

Composição com locomotivas de tração elétrica abandonada na gare
De Bauru também parti várias vezes rumo a Campo Grande e Corumbá, no trem do Pantanal. Viagens inesquecíveis. Não esqueço do carinho com que era tratado pelo pessoal da RFFSA, na Estação Noroeste de Bauru, durante os anos que permaneci na cidade.

O último trem de passageiros, da antiga linha da Cia. Paulista, chegou a estação de Bauru no dia 15 de março de 2001. No dia 13 de janeiro de 1993 acompanhei e registrei a última viagem do trem Bauru/Campo Grande. O que resta hoje no local é o total abandono, representando o descaso com a história e os bens públicos em nosso país.

Trem Maria-Fumaça recuperado por funcionários da Prefeitura de Bauru
O que sobra da ferrovia em Bauru, além do estado de abandono e para aliviar o sofrimento dos amantes da ferrovia, é um singelo museu mantido pela Secretaria de Cultura do município, em prédio contíguo à antiga estação. Um trem Maria-Fumaça, prefixo 278, recuperado por funcionários da Prefeitura Municipal, circula no terceiro domingo do mês, em pequeno percurso, tracionando dois vagões de passageiros, um de primeira e outro de segunda classe, além de um vagão de administração.



Observação:

Durante minha visita à gare da Estação Noroeste do Brasil, no último dia 13, um dos fatos que me deixou indignado e perplexo foi provocado por uma guia de turismo, da Secretaria de Cultura do Município, que acompanhava um grupo de estudantes em visita ao trem Maria-Fumaça e interrompeu seu trabalho, extrapolando de suas funções, para me interpelar de forma autoritária enquanto eu, devidamente identificado e autorizado, desempenhava minha função jornalística. Não entendi o interesse da funcionária em tentar ocultar o que está tão visível a todos.

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sexta-feira, 15 de junho de 2012

Hoje, um bom dia para reflexão

Rui Zilnet

Em nosso país, todo dia comemora-se alguma data alusiva a algum fato. Natal, Páscoa, Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia da Criança, Dia da Árvore, Dia dos Namorados, Santo Antonio, São José, Dia do Cão, Dia do Gato, Dia de São Isto, Dia de São Aquilo. E o Dia do Combate à Violência contra o Idoso, alguém lembra ou sabe que existe?

Pois é, em 2006 a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Rede Internacional de Prevenção à Violência à Pessoa Idosa instituíram o dia 15 de junho como data mundial de combate à violência contra os idosos. Poucos sabem ou fingem não saber da existência dos direitos que protegem as pessoas com mais de 60 anos.

No Brasil, somente em 2003 foi atendida uma exigência formulada na Constituição Federal de 1988. A Lei Nº 10741 instituiu o Estatuto do Idoso, que diz que a pessoa com mais de 60 anos é protegida pelo estatuto (art. 1), garantindo-lhe os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, assegurando-lhes todas as oportunidades e facilidades para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento, moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade (art. 2). É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária (art. 3).

A violência contra o idoso e a violação aos seus direitos é clara e alarmante em nosso país. A instituição desta data objetiva criar uma consciência mundial, social e política da existência da violência contra a pessoa idosa e disseminar a idéia de não aceitá-la como normal. A violência contra a pessoa idosa deve ser entendida como uma grave violação aos Direitos Humanos.

A sociedade brasileira deveria ser menos omissa, menos egoísta e olhar com mais carinho e atenção para os Idosos. Seja em casa, no ônibus; trem, metrô, mercado, padaria, calçada; ao atravessar a rua; ao subir uma escada, etc. Vemos tantas passeatas e movimentos em favor de tantas causas, mas nenhuma de combate à violência contra os idosos.

Será que estes que desprezam os direitos dos idosos hoje não alcançarão os 60 anos?

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