sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Impactos de Belo Monte podem ser compensados


“É muito cômodo eu estar aqui cheio de eletricidade, com computador ligado, viajando de avião várias vezes ao ano, enquanto no Norte fica todo mundo comendo folha e caçando minhoca. Isso é deplorável.”

‘A conservação da pobreza é patifaria’

Por Paula Thomaz, em Carta Capital

Tribos indígenas participam de discussão sobre a instalação da usina
de Belo Monte. Foto: Elza Fiúza/ABr
Os recursos hídricos de que dispõe o Brasil colocam o país no centro da polêmica quando o assunto é geração de energia.  Mas não é de uma hora para outra que uma hidrelétrica sai do papel. A Usina de Belo Monte, cujos debates sobre a construção começaram nos idos dos anos 1970 e duram até hoje, é um dos principais exemplos. E um dos entraves para seu andamento é o impacto social e ambiental que provocará.

Para o professor Luiz Pinguelli Rosa, diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe-UFRJ), do ponto de vista social, há uma saída para a construção das hidrelétricas. A perturbação provocada nas áreas de impacto da usina pode ser compensada como uma alternativa às famílias afetadas.

“É um problema real. Elas moram ali e precisam sair. Agora, tem que ser para melhor. A conservação da pobreza, para mim, é uma patifaria. É muito cômodo eu estar aqui cheio de eletricidade, com computador ligado, viajando de avião várias vezes ao ano, enquanto no Norte fica todo mundo comendo folha e caçando minhoca. Isso é deplorável. As pessoas têm que sair desse nível primitivo de vida e passar a integrar o mundo moderno. Não precisa comprar automóvel, nada disso, mas tem que ter educação, saúde, eletricidade em casa, habitação decente.”

Ao fazer essa defesa, Pinguelli, que participa do seminário “Hidrelétricas: as necessidades do País e o respeito à sustentabilidade”, promovido pela CartaCapital no próximo dia 22, cita o exemplo do povo Inuit, nova denominação dada aos esquimós, que vivem em Quebéc, no Canadá, onde foi construída a usina hidrelétrica La Grande 2.  De acordo com o professor, é um modelo viável. “Os canadenses têm populações de esquimós em altíssimo padrão de vida graças à renda das usinas hidrelétricas que ocuparam parte da terra deles.”

O professor explica, porém, que, do ponto de vista ambiental, o impacto da hidrelétrica é inevitável. “Já se reduziu muito [o impacto] aqui no Brasil ao fazê-las a fio d’água, sem reservatório. Assim, ela não inunda quase nada”, diz. O professor da UFRJ acredita ainda que há protestos justos, corretos, da oposição à Belo Monte e há outras equivocadas.

“A inundação, por exemplo, é mínima”, afirma. “Quinhentos quilômetros quadrados na Amazônia é uma poça d’água, ainda mais que é em cima do rio, parte dessa área é do Rio. Ele é largo e ele mesmo se alarga mais ainda. O reservatório de Belo Monte é muito pequeno. Não há reservatório praticamente.”

Embora tenha capacidade instalada de 11 mil MW, o que a tornará a segunda maior hidrelétrica do país, Belo Monte terá produção de energia em períodos de seca na ordem de 4,4 mil MW, 40% da capacidade. A atual maior usina do país, a Itaipu binacional, tem 14 mil MW de capacidade e produção em época de seca alcançando os 61%.

Pinguelli relativiza essa situação. Para ele, é um equívoco vender essa ideia comparando com 100% da capacidade da usina. As usinas brasileiras têm um nível de capacidade um pouco acima de 50%. “Há uma exceção,  por exemplo as usinas do rio Madeira, que estão muito acima dos 50%. Agora, a média brasileira fica um pouco acima de 50% e Belo Monte fica em 42%, que é bem pior. Mas as hidrelétricas do mundo, a média é muito abaixo disso. Na Europa, em alguns casos, abaixo de 30%; os EUA a média deles é 46% em todo o território americano. Se fizesse reservatórios grandes como no passado, você regularizava o rio e poderia aumentar muito o fator de capacidade. Mas isso não é mais feito para evitar impacto ambiental, porque você guarda água de um período para outro, aí regulariza e inunda uma área grande. Mas evitando inundar você tem que conviver com esses fatores  de capacidade. O que já está acontecendo no Brasil, necessidade de complementação à hidrelétrica, o que está sendo feito.”

A licença para a instalação da usina foi dada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em 1º de junho deste ano. Antes de entrar em funcionamento, a usina ainda precisa obter uma licença de operação, que está condicionada ao cumprimento de todas as exigências socioambientais previstas no projeto.

Esses e outros temas sobre a construção das usinas hidrelétricas no país serão discutidos no seminário “Hidrelétricas: as necessidades do País e o respeito à sustentabilidade”, promovido pela revista CartaCapital no próximo dia 22 de agosto. Além da participação do professor da UFRJ, são convidados para o debate Jorge Miguel Samek, diretor-geral da Itaipu Nacional;  Miriam Belchior, ministra do Planejamento; José da Costa Carvalho Neto, presidente da Eletrobrás; e Mauricio Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

Veja a programação completa:

“Geração de energia: desenvolvimento econômico sustentável, trabalho e bem-estar” - Miriam Belchior, ministra do Planejamento

“As novas hidrelétricas: com conservação do meio ambiente e respeito ao cidadão” - José da Costa Carvalho Neto, presidente da Eletrobrás

“Contribuição da Itaipu para o desenvolvimento e a integração do Brasil e do Paraguai” - Jorge Miguel Samek, diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional

“O papel da hidreletricidade na matriz energética brasileira” - Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética, EPE

“Hidrelétricas: fazer ou não fazer?” - Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe/UFRJ

Mediador: Dal Marcondes, diretor da Envolverde

Data: 22 de agosto de 2011
Horário: das 9 às 13h
Local: Caesar Business – Rua Olimpíadas, 205 – Vila Olímpia – São Paulo


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