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Por Rui Zilnet
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Enquanto Eunice Cariry relata os acontecimentos ocorridos na Casa do Índio, assistidos acompanham com liberdade |
Dia desses, em visita à Casa do Índio do Rio de Janeiro, fundada em 1968 pela sertanista Eunice Cariry, para acolher índios portadores de necessidades especiais, fiquei encantado com o que presenciei. A casa, localizada em uma sossegada rua da Ilha do Governador, abriga cerca de 32 índios com problemas físicos, mentais e doenças crônicas, que convivem tranquilamente num prédio com características que lembram uma aldeia indígena, porém, com estrutura adaptada ao meio urbano, proporcionando-lhes o conforto, a higiene e o bem estar necessários à boa recuperação.
Durante o tempo que permaneci na casa, aproximadamente oito horas, os índios assistidos demonstraram felicidade espontânea e aparência saudável, sem apresentar qualquer sinal característico de sofrimento ou privação de qualquer ordem. As instalações são limpas e bem cuidadas.
Segundo Eunice Cariry, o objetivo principal da Casa do Índio é receber índios oriundos das Administrações Regionais da FUNAI, instaladas nos estados da federação, sempre que esgotem todos os recursos para tratamento nos locais de origem. Os assistidos são atendidos na rede hospitalar pública (SUS) e por facultativos, que voluntariamente prestam assistência especifica a cada caso, desde a sua fundação, há 43 anos.
Contudo, desde os anos de 1990 a Casa do Índio passa por um processo de desestruturação promovido pela segmentação do atendimento aos indígenas, que retirou da Funai atribuições que lhes eram da competência. Como exemplo, a Educação dos índios passando para o Ministério da Educação (MEC) e a Saúde, respectivamente, para o Ministério da Saúde.
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Cândido Ribeiro é um dos funcionários da Casa do Índio |
Eunice destaca que desde a criação da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), em 1999, a Casa do Índio passou a sofrer um processo de cortes nas verbas para manutenção, alimentação e medicamentos dos atendidos, culminando, recentemente, com o cancelamento de um convênio que pagava todos os seus funcionários. Na próxima quarta-feira (30) completam 30 dias que foram rescindidos os contratos de cerca de 14 cuidadores, que mesmo assim permanecem em seus postos, sabendo que poderão ficar sem receber os salários.
A situação da Casa do Índio é extremamente delicada. O estado é de alerta máximo. Com o esfacelamento da Funai, as ações de terrorismo que a casa vem sofrendo, e uma visível disputa de poder por pessoas e instituições sem qualquer comprometimento com a causa indígena, a não ser o oportunismo, os assistidos estão sujeitos a ficarem abandonados à própria sorte, o que ainda não ocorreu devido à dedicação e seriedade que Eunice Cariry dirige a instituição.
O que entristece nesta situação é que enquanto uma organização criada com propósitos essencialmente humanistas, cumprindo verdadeiramente os objetivos a que se propôs é esfacelada pelo descaso das instituições governamentais, elementos aventureiros, pseudoprotetores dos índios, apropriam-se facilmente de recursos públicos, explorando a plasticidade cênica oferecida pelos indígenas, para mostrar belo e ocultar a realidade cruel.
Espera-se que alguém do governo demonstre bom senso e resolva rapidamente esta situação de descaso com a Casa do Índio, reconhecendo que o trabalho conduzido por Eunice Cariry é necessário e eficaz. O que não se pode aceitar é que os índios que ali estão fiquem jogados à própria sorte e os funcionários permaneçam na incerteza de seus futuros. A solução carece ser adotada com urgência máxima.
Texto e fotos de Rui Zilnet
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