Por Sergio Lirio, em Carta Capital
Nas eleições presidenciais do ano passado, a colunista de uma revista semanal muito criativa valeu-se dos versos de Dorival Caymmi (“Marina, morena Marina, você se pintou”) para exaltar a então candidata do Partido Verde. Era o auge da conversão da imagem de Marina Silva na mídia: da messiânica defensora do meio ambiente, símbolo do ativismo obscurantista que atrancava o progresso, a autêntica e virtuosa política que não renunciava a seus ideais em nome do poder. Seu futuro seria radioso, a seguir por uma estrada repleta de borboletas e iluminada por um céu cor de anil. Marina se tornaria uma terceira via, ponto de equilíbrio em 2014, e elevaria a outro patamar o debate sobre o desenvolvimento sustentável.
Nas eleições, como na guerra, a verdade factual é sempre a primeira vítima. Tanto entusiasmo midiático tinha por objetivo cevar a candidatura de Marina e impedir o fim das eleições no primeiro turno. De fato, ainda que por motivos alheios à pauta dos jornalistas, o surpreendente desempenho da ex-ministra, somado à decepção com o escândalo Erenice Guerra, adiou por um mês a vitória de Dilma Rousseff.
Os aliados de Marina costumam lembrar o patrimônio de 20 milhões de votos, mas nem isso parece suficiente para que se cumpra o futuro róseo. Por enquanto, a presidenciável patina na mais elementar de suas ambições, controlar o Partido Verde, ao qual se filiou para disputar as eleições. Na quinta-feira 17, por obra da ação do deputado maranhense Zequinha Sarney, a senadora levou uma punhalada digna dos florentinos. Por 29 a 16, a executiva da legenda adiou para 2012 a convenção nacional. Na prática, o mandato de José Luiz Penna, há 12 anos na presidência, foi prorrogado por mais um ano. O grupo marinista acha pouco provável que, em ano eleitoral, a agremiação realize o encontro.
Para piorar, Marina tem ouvido a avaliação de que sua votação em 2010 pouco teria acrescentado ao partido. O PV elegeu os mesmos 14 parlamentares da eleição de 2006.
Vice-presidente e aliado da senadora, Alfredo Sirkis desabafou em seu blog: “Ontem vivi o pesadelo verde (…) Ao longo dos últimos anos, instalou-se uma espécie de presidencialismo sub-reptício neste partido programaticamente parlamentarista”. E mais: “Digo aqui que não admito o presidencialismo vitalício. O povo brasileiro está cansado de uma elite fisiológica, que vê na política um caminho de enriquecimento e poder individual”.
O grupo de Marina decidiu criar um movimento autodenominado “Transição Democrática”. A corrente exige uma convenção nacional em seis meses e eleições diretas para a escolha dos novos dirigentes. E não descarta a alternativa de fundar uma nova legenda. Seria o nascimento do PVdoB.
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