domingo, 22 de maio de 2011

Ociosidade do ramal ferroviário Rio-São Paulo

Por Rui Zilnet

Em matéria publicada na Folha de São Paulo deste domingo, mais uma ação deste veículo, com objetivos claros em formar opinião contrária à ferrovia Rio-São Paulo, atacando o transporte de cargas para atingir o projeto do trem de passageiros.

“Enquanto o governo tenta emplacar o trem-bala entre Rio e São Paulo, a linha ferroviária existente entre os dois centros mais importantes do país trabalha com uma ociosidade de 66,2% no transporte de carga, informa Dimmi Amora, em reportagem na Folha deste domingo.”

A justificativa para tal afirmação de Amora é atribuída ao modelo de concessão, como problemas de logística e compartilhamento da linha entre as concessionárias. Mas isso não é tudo.

O transporte de cargas no ramal ferroviário Rio-São Paulo, há muito foi sufocado pelos interesses dos transportadores rodoviários e das fabricas de caminhões, ônibus e pneus. Não me venham, agora, tentar mascarar a situação.

O transporte ferroviário, de longe, sempre foi e sempre será o meio de transporte terrestre mais barato e seguro. Como a própria reportagem da Folha diz:

“Se fosse utilizado em sua plenitude [a ferrovia], evitaria cerca de 5.000 viagens diárias de caminhão de carga (27 toneladas) pela via Dutra, que acompanha seu traçado, o que representa 36% do movimento de caminhões do último trecho de São Paulo.”

Como poder de convencimento, a matéria mostra as implicações que contribuem para a ociosidade da ferrovia, uma delas a dificuldade de agregar cargas. Ora, se esta dificuldade existe, é porque não há vontade que isto aconteça. Carga, com certeza, é o que não falta. Porque não transportam nos trens da MRS os grãos e os combustíveis que circulam em caminhões pela Rodovia Presidente Dutra?

Não seria preciso dizer que é muito mais prático, eficaz e barato, levar um caminhão com 30 toneladas de mercadoria, percorrendo curta distância, de um armazém de coleta a um terminal ferroviário, do que fazer um percurso de 400 quilômetros ao seu destino, aumentando estupidamente os preços finais dos produtos transportados, pela incidência dos altos custos gerados sobre o transporte rodoviário, tais como, consumo de combustível, pneus, tarifas de pedágio, sem contar com os danos causados ao meio ambiente, pela alta emissão de CO2, e à pavimentação das estradas, entre outros.

O que há, de fato, e sempre existiu, é uma pressão muito forte dos empresários do transporte rodoviário, seja no setor de carga ou de passageiros, contra o transporte ferroviário.

Outra realidade a destacar, é que as ferrovias são concessões de interesse público. A concessionária não pode ter o privilégio de permitir ou não o compartilhamento da estrutura, sob alegação de quebra de contrato. Se há necessidade de compartilhar com outras empresas, para satisfação do bem comum, que o Estado promova o ajuste do contrato. O que não pode é a população ficar refém dos interesses especulativos que impedem o desenvolvimento equilibrado do nosso país.

As empresas concessionárias, que exploram os transportes ferroviários no Brasil, recebem toda estrutura montada pelo governo, restando-lhes somente auferir lucros. Isso precisa acabar!

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2 comentários:

  1. Olá, Rui,

    Bem a propósito o seu post. Não apenas no eixo Rio-São Paulo, mas há um total descaso pelo transporte ferroviário, reconhecidamente mais barato e menos poluidor. Grande parte da produção agrícola brasileira poderia ser levada até o mercado consumidor por intermédio de trens. O que impede? O poderosíssimo lobby da industria automotiva. Acredito eu.

    Na cidade do Rio de Janeiro o descaso ou interesses escusos mandam. Basta observar a quantidade de ônibus que circulam na cidade. É interessante que, ao ser criada uma nova extensão da linha do metrô, criam-se várias linhas de ônibus ("metrô de superfície"). O próprio traçado da linha 4, proposto (ou preposto), pelo governo Cabral não tem como objetivo desafogar o trânsito e reduzir a quantidade de linhas de ônibus que circulam no eixo Botafogo-Gávea. O traçado proposto pelas associações atendem esse objetivo, mas as autoridades (?) fazem ouvidos de mercador para as demandas.

    Fico feliz com mais uma voz em prol do transporte público de qualidade.

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  2. Parabéns, comentário de primeira. O transporte ferroviário de cargas foi vítima dum modelo de privatização muito mal elaborado e a agregação de cargas possui dificuldades em função dessas limitações, fora algumas obras que deviam ter sido colocadas para as concessionárias, como o anel ferroviário da cidade de São Paulo, fundamental para aumentar a capacidade de transporte de toda a malha tanto para o porto de Santos como para o Rio de Janeiro.

    O trem bala é fundamental para que, caso eu precise ir amanhã a São Paulo, não tenha que pagar R$ 700 reais ida e volta, a passagem no trem bala é muito mais barata que a média do preço das passagens aéreas, além da garantia de horário de saída e chegada, em função de não depender de tráfego aéreo ou condições climáticas para pousos e decolagens.

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