Da Rede Brasil Atual
Texto defendido por ruralistas premia desmatadores, na visão de Sergius Gandolfi
Por: Virginia Toledo, Rede Brasil Atual
Desmatamento em Atamira, no Pará (Foto: MMA) |
O professor acredita que políticas agrícolas efetivas são capazes de melhorar as condições de cultivo e manejo em diferentes solos, sem ser necessária a abertura de novas áreas de cultivo em locais onde há mata protegida. Ele critica a forma com que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento conduz as políticas de desenvolvimento no Brasil, por considerar que apenas os interesses dos grandes produtores são ouvidos.
Rede Brasil Atual - Em artigo divulgado pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA), os ruralistas defendem que a exigência de Reserva Legal no Brasil contraria os interesses do país. O que são essas reservas e como o sr. vê essa posição?
Sergius Gandolfi - Nenhuma propriedade rural usa 100% da área (para agricultura). Normalmente gira em torno de 70% do espaço. Então, as florestas deveriam ser mantidas nas partes que não têm vocação agrícola. Hoje, já há estudos provando que já se pode explorar economicamente e ao mesmo tempo continua mantendo a floresta. O manejo florestal vai complementar a renda que o agricultor tem com sua própria agricultura. Apenas parte nas margens de rios e nascentes é que não deve ser manejada para proteger a produção de água, que é justamente necessária para a própria propriedade – e na questão social com um todo. Mas essa área é de cerca de 10% da propriedade.
RBA - Por que os críticos do texto do novo Código consideram que ele oferece anistia aos desmatadores?
Sergius Gandolfi - O texto só favorece ao desrespeito da lei, porque se incentiva que eles continuem a não respeitar a legislação ambiental. Se aprovado o projeto, eles vão ser premiados por terem explorado, ilegalmente, área de proteção e por terem obtido lucro nessas áreas. Sem restrição agora, eles continuarão a fazer isso em novas áreas que ainda vão ser abertas e usadas para a agricultura.
RBA - O que fazer com as áreas já desmatadas? Há uma saída para a restauração dessas áreas?
Sergius Gandolfi - É preciso diferenciar o caso dos pequenos agricultores, que têm pouco potencial para recuperar essa área. Para isso, o Estado deveria ajudar. O governo federal, as prefeituras e mesmo as ONGs podem auxiliar no sentido de que ele as recupere gradualmente. Isso é possivel. A gente trabalha com isso, existem vários métodos com diferentes custos e que tornam possível fazer a recuperação dessas áreas. Isso é diferente do grande agricultor, que tem toda a capacidade economica de gastar dinheiro, porque lucraram muito em cima desta atividade irregular.
RBA - A produtividade da terra poderia influenciar no fim da expansão das fronteiras agrícolas? E até que ponto isso prejudica a condição do solo?
Sergius Gandolfi - Isso pode influenciar na medida em que a gente deixar de usar as áreas de proteção e passar a usar melhores técnicas agrícolas. Este é o problema. Muitas vezes, o agricultor não faz, por exemplo, o controle da erosão para lucrar mais. Ao não controlar a erosão, a terra vai perdendo fertilidade e produtividade com o passar do tempo, de modo que ele produz cada vez menos em sua mesma propriedade. Aí, ele se vê obrigado a mudar para um outro lugar ou a desmatar uma outra área. Quanto mais se usa a técnica agrícola adequada, tanto mais tempo ele produz na área já aberta e menor é a possibilidade de se abrir novas fronteiras agrícolas.
RBA - Como definir a técnica agrícola correta para o uso de diferentes áreas?
Sergius Gandolfi - Com o uso correto do solo, não será necessário expandir fronteiras agrícolas para outros lugar, como por exemplo na Amazônia, onde ainda nem temos conhecimento científico para manejar as áreas e como usá-la racionalmente. No Brasil, já temos áreas que estão sendo subutilizadas, onde poderiam melhorar a produtividade se tivéssemos uma política agrícola de recuperação. Tem uma outra questão que a gente geralmente não pensa. Em áreas já abertas têm estradas, mão de obra, o mercado consumidor está próximo... A estrutura para produção e para criar um ciclo econômico está aqui, não na Amazônia. Então, é perto dos centros urbanos onde temos de produzir, melhorando a produtividade para que a gente otimize essa infraestrutura. Isso permite não ficar criando mais uma estrada, mais hidrelétrica na Amazônia. Temos um Ministério da Agricultura que nunca pensou no Brasil e no seu desenvolvimento com um todo. Ele pensa somente no grande agricultor e nas demandas do grande agricultor.
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